Os preços das casas no país não param de aumentar, com subidas bem acima da média europeia. Ainda assim, não significa que Portugal tenha ou venha a ter uma bolha imobiliária, uma vez que, segundo António Ramalho, continua a haver falta de oferta, depois de uma década com um crescimento anormalmente baixo na construção de habitação: "Tivemos um crescimento de 1,78% na produção de casas durante 10 anos, o que dá 0,17% ao ano. Na prática, temos as mesmas casas que tínhamos há 10 anos". Uma conjuntura que faz com que não se preveja nenhuma descida acentuada dos preços nos próximos tempos: "O imobiliário funciona sempre com um mercado âncora, que é o residencial. E o mercado residencial em Portugal é um mercado deficitário, onde a oferta está muito aquém da procura há muitos anos, o que significa que a tendência é dos preços subirem", sublinha o ex-CEO do Novo Banco.
António Ramalho admite no entanto que a atual conjuntura económica está a fazer arrefecer o mercado imobiliário: "Há menos 20% de transações, o que é o efeito manifesto da subida das taxas de juro em relação às taxas de esforço". É por isso expectável uma descida moderada e suave nos preços: "E e desejável que haja esse ajustamento", nota.
Também em relação à subida das taxas de juro e ao risco de existir um aumento dos números de incumprimento nos créditos à habitação, António Ramalho diz que os números demonstram não haver razão para alarme: "Portugal tem neste momento 0,3% de incumprimento dos créditos à habitação. É um número mais baixo do que tínhamos em 2022 (0,4%)". E sublinha também que os níveis de emprego continuam favoráveis.
O economista diz no entanto que os mais jovens são os mais afetados pelas subidas dos juros: "é sobretudo quem comprou casa nos últimos 2 ou 3 anos que naturalmente está a sofrer as consequências".
António Ramalho admite que o acesso ao mercado imobiliário está mais difícil e defende por isso mais apoio do Estado às famílias com maior dificuldade e maiores incentivos a uma produção de casas mais rápida. O antigo presidente executivo do Novo Banco lembra que este "vai ser um ano de adaptação a um contexto de taxas de juro positivas, que vão manter-se historicamente mais elevadas durante um longo período".
Oiça este episódio do Expresso Imobiliário, conduzido por Rita Neves e com sonoplastia de João Luís Amorim.
Podcast semanal em que são abordadas as mais diversas temáticas relacionadas com o Imobiliário, um sector fundamental para a economia nacional. Da habitação ao investimento, passando pela arquitetura e construção, as jornalistas Maribela Freitas, do Expresso, e Rita Neves, da SIC, convidam especialistas para refletir sobre problemas, tendências e caminhos futuros desta área.