O "Market Pulse" da consultora revela um investimento total no imobiliário comercial a rondar os mil milhões de euros até setembro, menos 50% do que o período homólogo. É uma queda significativa, mas os resultados do 3º trimestre não surpreendem e o abrandamento já era sentido no início do ano "fruto de uma conjuntura macroeconómica muito desafiante, com a incerteza de uma guerra na Europa, a subida da taxa de inflação e consequente subida das taxas de juro. O ambiente imobiliário e conjuntural mudou muito", sublinha a consultora.
Em entrevista ao Expresso Imobiliário, Joana Fonseca refere que Portugal segue a tendência global e do mercado europeu, que diminuiu no 61% no mesmo período. Sublinha no entanto que o apetite para o mercado imobiliário continua a existir: "o que se verifica é mais um adiamento do investimento ou atraso na concretização das negociações".
A contribuir para esta quebra tão acentuada está também o facto de 2022 ter sido um ano recorde no investimento no imobiliário comercial em Portugal, na ordem dos 3 milhões e 400 mil euros, ligados a grandes transações e negócios hoteleiros: "no fundo, vínhamos de um ano com valores muito altos e portanto esta quebra é natural".
O segmento dos escritórios é o mais atingido: "nestes primeiros 9 meses do ano, o volume de absorção decresceu 70% em comparação com o período homólogo". Joana Fonseca fala numa "mudança de paradigma", com a adoção do trabalho híbrido e a reorganização dos espaços de trabalho, que tem tido impacto nas decisões de investimento "Se no ano passado duas das 10 maiores transações foram acima dos 20 mil m2, ainda houve mais duas acima dos 10 mil m2 e nestas 10 maiores todas foram acima dos 5mil m2. Este ano houve apenas 2 operações, acima dos 4 mil m2".
Ainda assim, a consultora sublinha que apesar do decréscimo do investimento, o valor das rendas continua uma trajetória de crescimento. Já os segmentos da hotelaria e retalho, bastante afetados pela pandemia, estão em clara rota de recuperação, com o retalho a representar "35% do volume total de investimento e a hotelaria 38 % nos primeiros 9 meses do ano".
O "Market Pulse da JLL revela ainda que, apesar de um enquadramento macroeconómico marcado pela incerteza, Portugal continua a estar na mira dos investidores estrangeiros, sendo que "70% do investimento este ano foi internacional". Joana Fonseca diz no entanto que as recentes medidas do governo, como o fim dos Vistos Gold ou o fim do regime fiscal especial para residentes não habituais, contribuem para aumentar a incerteza "o que impacto muitíssimo as intenções de investimento. Nós estamos no fundo a matar a credibilidade de Portugal enquanto destino de investimento".
Quanto a perspectivas de recuperação, a consultora sublinha que o clima e incerteza vai manter-se nos próximos meses e ainda no primeiro semestre do próximo ano: "talvez a recuperação total possa vir a sentir-se no final de 2024, mas provavelmente só mesmo em 2025".
Oiça este episódio do Expresso Imobiliário, conduzido por Rita Neves e com sonoplastia de Salomé Rita e João Ribeiro.
Podcast semanal em que são abordadas as mais diversas temáticas relacionadas com o Imobiliário, um sector fundamental para a economia nacional. Da habitação ao investimento, passando pela arquitetura e construção, as jornalistas Maribela Freitas, do Expresso, e Rita Neves, da SIC, convidam especialistas para refletir sobre problemas, tendências e caminhos futuros desta área.