Opinião

Queremos mais habitação e precisamos de construir o futuro

A regeneração urbana, quando é tida como uma missão, exige mais do que uma visão financeira, mas um olhar para o futuro e uma leitura profunda da cidade existente

A transformação das cidades onde vivemos deixou de ser uma mera opção e tornou-se num imperativo. Num país como Portugal, com núcleos urbanos envelhecidos e desequilíbrios demográficos crescentes, a resposta responsável à crise na habitação deve estar centrada na requalificação do território existente, e não na sua expansão descontrolada. Os planos de nova construção, reabilitação e requalificação urbana têm um papel estruturante para todos os que participam na criação das cidades atuais e do futuro.

Assim, a regeneração urbana, quando é tida como uma missão, exige mais do que uma visão financeira, mas um olhar para o futuro e uma leitura profunda da cidade existente. Não basta construir edifícios, sem incluir planos para a criação de bairros com vida, com mistura de funções, com espaços públicos ativos e atrativos e com um impacto social e ambiental positivo. Planos que têm em conta todas estas características, não só adicionam valor ao próprio ativo imobiliário, como valorizam o bairro onde estão inseridos e a cidade como um todo.

Para isso, é essencial adotar uma lógica de planeamento em diferentes escalas, que vai do local ao quarteirão, do edifício ao tecido urbano. A integração passa ainda pela articulação com redes de transporte público, a criação de praças, zonas pedonais, e equipamentos de proximidade. No fundo, elementos que aumentam exponencialmente a qualidade de um projeto urbano e da vida de quem lá irá habitar.

Um bom plano não vive por isso apenas da sua arquitetura, mas da forma como esta se articula com o espaço público e com os ritmos da vida local. Implicando, pois, uma atuação transversal, que vai da reabilitação de edifícios à mobilidade sustentável, da criação de zonas verdes à ativação económica e cultural de territórios subvalorizados, planear as cidades do futuro envolve um planeamento a várias escalas. Um diálogo real e concreto com autarquias, cidadãos e parceiros locais não é um processo rápido, mas é transformador, tanto para as cidades, como para quem nelas vive e investe.

Para que estas operações sejam bem-sucedidas, é necessário integrar quatro dimensões fundamentais: viabilidade económica – pois, sem ela, não haverá quem queira arriscar num projeto; qualidade arquitetónica e de construção; sustentabilidade ambiental e inclusão social.

Projetos que cumprem estes critérios são resilientes a crises, valorizam-se no tempo e tornam-se pontos de referência. A longo prazo, este tipo de intervenção tende a ser mais eficiente do ponto de vista da infraestrutura, mais atrativa para investimento e menos impactante em termos ecológicos do que a expansão urbana convencional.

Ao apostar na regeneração urbana sustentável, os promotores deixam de ser apenas operadores económicos para se tornarem agentes do desenvolvimento urbano. Acredito que este é o novo padrão de atuação responsável, pois cuidar da cidade existente é a forma mais inteligente e ética de criar valor, seja ele económico, social ou cultural.