Houve tempos, não muito antigos, em que se atribuía a deterioração das capacidades mentais dos mais velhos precisamente ao facto de serem mais velhos. Envelhecer entorpece a marcha e a mente, dizia-se.
O que a ciência veio demonstrar é que há idosos que, embora entorpecidos na marcha, não estão entorpecidos na mente e, por essa razão, quando a mente se deteriora é porque existe uma qualquer outra causa.
Há pouco mais de 100 anos o cientista Alzheimer deu o seu nome a uma dessas causas, que passou a ser bem conhecida e identificável do ponto de vista clínico. Essa causa é a doença para qual chamamos hoje a atenção e que constitui a causa para a maioria das pessoas cuja mente se deteriora, ou seja, que têm o diagnóstico genérico de demência.
Foi bom ter-se sabido tudo isto, o pior tem sido a dificuldade em encontrar causas tratáveis desta doença. Quando se estudam fatores de risco, na esperança de que isso nos ilumine quanto às causas, é sempre a idade avançada que se relaciona com a maior prevalência da doença. Como não podemos deixar de envelhecer, há que envelhecer o melhor possível, porque se estivermos bem envelhecidos a doença terá menos impacto negativo. Envelhecer bem não é o resultado do efeito de remédios nem do uso de aparelhos de estimulação, envelhecer bem é ter bons hábitos de saúde.
Todos sabemos que a população está a envelhecer, em particular no nosso país. Isso implica um aumento crescente de casos. E como a doença é progressiva e incapacitante é necessário um número crescente de cuidadores e de cuidados, o que implica uma política social bem estruturada de apoio, que dê dignidade a este curso de fim de vida e qualidade de existência àqueles que cuidam.
Tenho tido oportunidade de acompanhar muito do que se vem fazendo bem feito por este país fora, por iniciativas oriundas de diversos lugares dispersos, infelizmente não enquadradas numa lógica de organização social nacional. Há que compreender que as necessidades, já demais identificadas, têm variações regionais que importa considerar, que são mais bem compreendidas de forma descentralizada. No período de que nos aproximamos de eleições para as regiões, apelo aos candidatos para uma reflexão sobre este assunto.
É triste ter de terminar este breve comentário alusivo a esta terrível doença com uma nota negativa, que está sempre no meu espírito à medida que os anos vão passando: é muito provável que alguém esteja a tratar de mim dentro de algum tempo ou eu esteja a tratar de alguém, com esta doença.
Posso reduzir, um pouco, este pessimismo dizendo que pelo mundo fora há centenas de laboratórios de investigação científica empenhados em encontrar soluções clínicas, mas até lá, o problema é mais social do que clinico.
A propósito do dia mundial da doença de Alzheimer
Como a doença é progressiva e incapacitante, é necessário um número crescente de cuidadores e de cuidados, o que implica uma política social bem estruturada de apoio. A reflexão de um especialista sobre a data que se assina no domingo, dia 21