Conforme era mais do que previsível, por estes dias os professores do ensino público dedicam-se com entusiasmo a boicotar as avaliações e exames dos seus alunos, depois de quase um ano inteiro em que fizeram o mesmo com as suas aulas. Independentemente das razões que lhes assistirão em alguns pontos, há qualquer coisa de profundamente triste e degradante para a sua própria imagem quando vemos toda uma classe profissional que só parece estar feliz e realizada quando não está a exercer o trabalho para o qual existe e é paga. Mesmo sabendo que com isso estão, antes de mais nada, a prejudicar os alunos e, entre estes, os mais vulneráveis, para quem a escola, justamente, podia e devia ser um factor de correcção das desigualdades de origem socioeconómica. Muitas das coisas que os professores exigiam eram justas e legítimas, mas nenhum Governo foi tão longe em reconhecê-las e concedê-las como este e nenhum ministro esteve alguma vez tão bem preparado para o cargo como João Costa. Simplesmente, desde que me lembro, nunca vi os sindicatos dos professores e, em particular, esse farol da educação pública que é Mário Nogueira alguma vez reconhecerem qualquer competência ou valor a um ministro da Educação. A luta dos sindicatos da educação — e dos professores que lhes obedecem cegamente, como em nenhum outro sector — não é apenas profissional, mas também política. Por isso, e por natureza, nunca terá fim, disfarçada embora de luta profissional.
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