Em Portugal, muito raramente somos surpreendidos com atividade sísmica no Continente mas há uma região em que a terra treme com mais frequência – os Açores – isso, por vezes, mascara o real risco de fisicamente sofrermos um sismo no resto do território.
Qual o risco de Portugal Continental? Podemos dizer que por haver baixa frequência sísmica não vivemos numa zona de risco? Não, não podemos. Podemos, inclusive, dizer o contrário. A baixa frequência sísmica aliada ao contexto tectónico onde estamos inseridos, provoca um risco acrescido – o risco cultural - pois achamos que estas coisas só acontecem aos outros. O perigo de sofrermos com um sismo é algo que não está presente no nosso dia-a-dia.
Mas o risco sísmico existe mesmo? Vejamos o contexto em que vivemos.
Do ponto de vista científico, existe evidência que um grande sismo como o de 1755 vai voltar a acontecer. Não é uma questão de “se”, é uma questão de “quando” – um dia Portugal Continental vai voltar a tremer. Pode ser hoje, amanhã, para o ano, na próxima geração ou daqui a centenas de anos. Infelizmente a ciência ainda não consegue prever no tempo e no espaço a ocorrência deste tipo de catástrofes, mas não há dúvida que um grande sismo acontecerá em Portugal Continental.
Portugal situa-se na Placa Euroasiática, limitada a sul pela falha ativa Açores-Gilbraltar, correspondente à fronteira entre as Placas Euroasiática e Africana, e a oeste do continente localiza-se a falha dorsal do Oceano Atlântico. A maioria dos sismos registados em Portugal deve-se às várias falhas ativas na região, mas existem outras capazes também de gerar sismos destrutivos em terra. Algumas dessas falhas são bem conhecidas, mas há ainda muitas outras que permanecem por descobrir e estudar.
Este contexto onde estamos inseridos tem uma particularidade: a deformação das placas é muito lenta, estamos a falar de poucos milímetros por ano, pelo que os sismos podem acontecer com grandes intervalos de tempo, acumulando grandes quantidades de energia que um dia, inevitavelmente, será libertada. Isto explica porque temos tendência a esquecê-los no dia-a-dia, embora os seus efeitos possam vir a ser devastadores. Achamos que estas desgraças só acontecem aos outros – não temos consciência sísmica em Portugal.
A responsabilidade de preparar as infraestruturas base (hospitais, escolas, regulamentos de construção, etc.) cabe ao estado mas não é esse o foco deste texto. Nem me atrevo, sequer, a tentar descrever o caos que vivemos nessa perspetiva. Gostaria, sim, que nos focássemos no risco cultural e naquilo que depende de nós, cidadãos, para termos consciência sísmica.
Tudo começa com a nossa atitude – necessitamos de ganhar consciência (sísmica) e cultura de autoproteção. É óbvio que o estado também desempenha um papel ativo, entre várias vertentes, como educador e regulador, mas isso não esvazia o nosso papel de cidadão responsável.
Sem me alongar deixo apenas algumas questões que deixo para reflexão:
Quando compramos ou arrendamos uma casa questionamos alguma coisa sobre a preparação sísmica da construção em causa? Temos um plano de emergência familiar que nos permita saber o que fazer em caso de sismo? Temos um Kit de Emergência em casa?
Temos no trabalho ou em casa pessoas com formação em suporte básico de vida?
No Japão, México, EUA, Turquia, etc. estas perguntas têm respostas bem diferentes das que nós damos em Portugal. Infelizmente estas perguntas não são sequer feitas por grande parte da população portuguesa. Não estamos preparados e nem sequer temos consciência do risco sísmico que vivemos. Como não podemos controlar o contexto tectónico de Portugal Continental, restam-nos dois caminhos: continuar com a cabeça enterrada na areia ou mudar a nossa atitude.
Eu escolhi mudar de atitude e sou um cidadão que valoriza a autoproteção.
Não acredito no amor tectónico.