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“Avessos ambos ao tráfico de influências, e antipatizantes dos corredores de fundo rumo à notoriedade, tropismos recorrentes na vida literária, aprendi com ela a abraçar a canseira da formiguita, e a olhar de soslaio a cantoria da cigarra”. Por ocasião do centenário do nascimento de Agustina Bessa Luís, o escritor Mário Cláudio partilha as memórias que guarda da autora

O nosso trato, resultante do temor reverencial pela invulgar oficiante das letras, homenageada hoje no centenário do seu nascimento, procederia por cadências e intercadências de afecto praticado. O pequeno alferes miliciano que procurava desligar-se dos horrores e desconfortos da guerra da Guiné, mergulhando na leitura que o estremasse do verde ubíquo de bolanhas e camuflados, daria com um romance intitulado Homens e Mulheres. Assinava-o Agustina Bessa-Luís, em quem se ia reparando, e que ele de resto conhecia já, rendido à originalidade das crónicas que a mesma publicava no Diário Popular.

Como ídolo materializante da sua crescente devoção à autora, e impressa em retrato a preto e branco numa das badanas, lá estava ela, algo diluída na nortada de Esposende, e por isso como compatriota do reino a Norte que lhes era comum. Assim se justifica que caísse o alferes miliciano, desamparado de mitos redentores, no desejo acalentadíssimo de se achar face a face com quem escrevia o que escrevia, e muito provavelmente como ninguém escrevia na altura, ou como nunca ele conseguiria escrever.