Guerra no Médio Oriente

Ministro radical israelita sugere demolir Gaza e fazer dela uma “mina de ouro imobiliária” com ajuda dos Estados Unidos

Ministro das Finanças israelita, aliado de Netanyahu ligado à direita radical e que representa os colonos, afirmou que está na hora de “dividir os terrenos” do enclave palestiniano: há um plano que está “na mesa de Donald Trump”

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O ministro das Finanças israelita, Bezalel Smotrich, afirmou esta quarta-feira numa conferência em Telavive que a “demolição” da Faixa de Gaza está perto de estar concluída. Agora, é altura de “dividir os terrenos” do enclave palestiniano para pagar os gastos da guerra.

“Vamos falar sobre o dia a seguir à guerra, em termos de imobiliário”, dizia o moderador, que questionou: “onde é que deve ser construido o primeiro colonato na Faixa de Gaza?” “Há um plano de negócios”, respondeu o ministro filiado no Partido Sionista Religioso, supremacista judeu e ultranacionalista.

O plano, que pretende tornar Gaza numa “mina de ouro imobiliária”, está “na mesa de Donald Trump”, revela Smotrich, citado pela Al-Jazeera.

“Estamos a negociar com os norte-americanos. Compensa”, explica, defendendo que Israel pagou “muito dinheiro pela guerra" e, por isso, tem de "decidir como dividir os terrenos em Gaza. A fase de demolição é sempre a primeira fase da renovação urbana. Já o fizemos, agora temos de começar a construir, que é mais barato”. Fala ainda sobre o “marketing das terras” que pretendem fazer mais tarde.

Intenção já tinha sido manifestada por Trump

Em fevereiro passado, o Presidente norte-americano, Donald Trump, manifestou desejo de transformar a devastada Faixa de Gaza numa “Riviera do Médio Oriente”, com colonatos com habitações para 1,2 milhões de judeus, expulsando os dois milhões de habitantes do enclave para países vizinhos, como a Jordânia e o Egito.

No início de setembro, o The Washington Post publicou em exclusivo um documento da administração Trump que delineava um dos possíveis planos para Gaza após o fim da ofensiva israelita.

O documento de 38 páginas detalhava que o enclave palestiniano seria controlado sob tutela dos Estados Unidos — entregue por Israel — durante pelo menos 10 anos e exigiria a deslocalização, pelo menos temporária, dos dois milhões de habitantes de Gaza durante a reconstrução.

O plano levanta a possibilidade de os EUA liderarem a reconstrução de Gaza, com financiamento de investidores dos setores público e privado, que desenvolveriam grandes projectos comerciais, incluindo estâncias turísticas.

Ministro israelita alvo de sanções

Smotrich e o seu colega de governo Itamar Ben-Gvir, que representam esta força política de direita radical e sionista, são aliados do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu.

Pelas declarações de “repetido incitamento à violência contra as comunidades palestinianas”, Smotrich foi alvo de sanções por parte de países como o Reino Unido, o Canadá, a Austrália, a Nova Zelândia e a Noruega.

As sanções incluem a proibição de entrada e o congelamento de quaisquer bens que possa ter nesses países. A Holanda e a Eslovénia impuseram as suas próprias sanções, e a Espanha proibiu-o de entrar no país.

A União Europeia apresentou também uma proposta aos seus Estados-membros para impor sanções a Smotrich e Ben-Gvir, o que implicaria o congelamento dos seus bens europeus e a proibição de entrar na UE.

As declarações deste ministro de Netanyahu surgem dois dias depois de as tropas terem iniciado a anunciada incursão terrestre na Cidade de Gaza, procurando expulsar para a parte sul da Faixa os cerca de 600 mil palestinianos que ainda ali permanecem.

O Exército israelita afirmou que as unidades da força aérea e de artilharia atacaram a cidade de Gaza mais de 150 vezes nos últimos dias, antes da chegada das tropas terrestres.

Os ataques derrubaram prédios em zonas densamente povoadas por acampamentos de tendas onde estão abrigados milhares de palestinianos. Israel afirma que estas torres estão a ser utilizadas pelo Hamas para vigiar as tropas.

Para permitir a fuga de mais palestinianos da cidade de Gaza, Israel abriu outro corredor no sul da cidade de Gaza durante dois dias, a partir de hoje.

Mais de 65 mil palestinianos foram mortos na guerra entre Israel e o Hamas na Faixa de Gaza, declarou o Ministério da Saúde do enclave palestiniano.

O Ministério da Saúde, controlado pelo Hamas, afirmou que o número de mortos subiu para 65.062 e que 165.697 pessoas foram feridas desde o início do conflito, que ocorreu após o ataque do grupo palestiniano ao território israelita em 07 de outubro de 2023.

A ofensiva israelita destruiu vastas áreas da Faixa de Gaza, desalojou cerca de 90% da população e provocou uma crise humanitária catastrófica, com os especialistas a anunciarem que as pessoas estão a passar fome no enclave.

O Ministério da Saúde de Gaza, cujos números são considerados fiáveis pela ONU, não referiu quantos mortos eram civis ou militantes, mas afirmou que as mulheres e as crianças representam cerca de metade das mortes.

Um relatório de uma comissão especializada da ONU concluiu na terça-feira que a guerra que Israel trava na Faixa de Gaza, em retaliação contra um ataque terrorista do Hamas em território israelita, constitui um genocídio.