O primeiro dia da nova fase da ofensiva terrestre das Forças de Defesa de Israel (IDF) ficou marcado por um novo massacre. Fontes médicas no enclave palestiniano informaram que pelo menos 101 pessoas foram mortas entre a meia-noite de segunda-feira e as 18h30 de terça.
As morgues de hospitais da Cidade de Gaza receberam 86 cadáveres, enquanto nove foram contabilizados na região central do território e seis no sul.
Segundo o Ministério da Saúde da Faixa de Gaza, da responsabilidade do Hamas, um dos alvos atingidos na terça-feira foi o Hospital Al-Rantisi, na Cidade de Gaza, onde estavam internados 80 doentes. Este é o único hospital pediátrico especializado em funcionamento na capital.
As autoridades locais informaram que os pisos superiores do hospital foram atacados três vezes, o que obrigou à retirada de 40 pacientes. Não esclareceram, porém, se este ataque provocou mortos ou feridos.
À procura de terroristas e dos reféns
Em comunicado, as IDF informaram que, desde segunda-feira, a Força Aérea israelita já atingiu cerca de 150 alvos. “As tropas começaram a operar na área da Cidade de Gaza como parte da Operação Carruagens de Gedeão II”, lê-se. “As tropas estão a eliminar terroristas e a desmantelar estruturas militares utilizadas por organizações terroristas na Faixa de Gaza.”
Esta quarta-feira, a Autoridade Reguladora de Telecomunicações Palestiniana, sediada na Cisjordânia ocupada, informou que os ataques israelitas às principais linhas de rede no norte de Gaza provocaram o colapso dos serviços de Internet e de telefone, isolando a população de Gaza do mundo.
As manobras israelitas na capital do território têm passado por incursões nos túneis subterrâneos, bem como a demolição de arranha-céus e a terraplanagem de bairros inteiros, o que inevitavelmente força à saída de populações. Estima-se que cerca de 400 mil palestinianos dos mais de um milhão que viviam na Cidade de Gaza já se tenham deslocado para outras zonas do território, cada vez mais sobrelotadas.
Israel acredita que os 48 reféns israelitas que ainda restam no território possam estar localizados na zona da capital de Gaza. Telavive acredita que cerca de 20 possam estar vivos.
É genocídio, disse a ONU
Os mais recentes ataques, e em específico a morte de 101 pessoas num único dia, coincidem com a divulgação, pelas Nações Unidas, de um relatório elaborado por uma Comissão Internacional Independente que concluiu que “as autoridades israelitas e as forças de segurança israelitas cometeram e continuam a cometer o seguinte actus reus de genocídio contra os palestinianos na Faixa de Gaza”.
Nas suas conclusões, o documento refere ainda que “os acontecimentos em Gaza desde 7 de outubro de 2023 não ocorreram isoladamente (...). Foram precedidos por décadas de ocupação ilegal e repressão sob uma ideologia que exige a remoção da população palestiniana das suas terras e a sua recolocação”.
Esta ideia já tinha sido expressa pelo secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, que, nos primeiros tempos da guerra em Gaza, afirmou que "o 7 de Outubro [o ataque terrorista do Hamas] não aconteceu no vácuo". A afirmação tornou-o persona non grata em Israel.