Sociedade

Estudante palestiniano da Universidade Nova de Lisboa continua impedido de abandonar Gaza: faculdade pede “resposta urgente” ao Governo

Executivo não dá alternativa a Tarek Al-Farra: tem de se dirigir a Ramallah para conseguir visto. Faculdade onde está inscrito pede urgência na saída do estudante, que já pagou parcialmente as propinas deste ano letivo

A uma semana do arranque das aulas, Tarek Al-Farra, jovem palestiniano de 23 anos, continua impedido de iniciar os estudos em Portugal após ter feito a inscrição e o pagamento parcial das propinas na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas (FCSH) da Universidade Nova de Lisboa.

O jornal “Público” recorda que o Governo disse em agosto que, para obter o visto de estudante, Tarek terá de se dirigir a Ramallah, na Cisjordânia – mas o jovem não consegue sair da Faixa de Gaza. Desde então, o Executivo não voltou a pronunciar-se sobre a situação. A diretora da NOVA FCSH, Alexandra Curvelo, refere ao Expresso que procurou restabelecer contacto com o Ministério dos Negócios Estrangeiros, mas não obteve resposta.

FCSH toma posição pública por Tarek Al-Farra

Com o intuito de dar “voz a uma situação que exige resposta urgente por parte da comunidade internacional”, a direção da faculdade realizou esta terça-feira um ato público de solidariedade com o estudante palestiniano, no campus da Avenida de Berna, em Lisboa.

Já inscrito no mestrado em Estudos Ingleses e Norte-Americanos, o jovem terá de esperar que as autoridades israelitas aprovem a sua saída de Gaza, uma vez que tem de atravessar Israel para chegar à Cisjordânia. No entanto, devido à situação atual do enclave, as forças israelitas não estão a ceder autorizações.

Alexandra Curvelo afirmou que a única solução seria sair por um corredor humanitário apoiado pelo Governo português. A diretora reconhece a dificuldade destes procedimentos, mas garante que, com o apoio da reitoria, vai continuar a pressionar para que sejam tomadas as medidas necessárias para o estudante chegar a Portugal.

Se o jovem conseguir chegar a Portugal, a FCSH, a reitoria e os Serviços de Ação Social estão prontos para integrar o jovem nesta nova realidade, informa a diretora. Em conjunto, garantem que o jovem terá um lugar numa das residências da NOVA, assim como apoio psicológico por parte dos serviços de psicologia, inclusão e igualdade como uma “âncora para enquadrar o Tarek neste novo contexto”.

Num depoimento, lido no ato de solidariedade, o palestiniano afirma que a sua entrada na universidade é uma oportunidade para reencontrar estabilidade e “voltar a sentir-se ele próprio”. Refere também que a Irlanda já conseguiu “abrir caminhos seguros para estudantes palestinianos” e acredita que Portugal também consegue e o devia fazer.

O presidente da Associação de Estudantes da FCSH (AEFCSH), Guilherme Vaz, um dos intervenientes neste momento solidário, descreveu como “insensíveis” as ações do Governo relativamente a esta situação.

A AEFCSH junta-se à direção da faculdade no apelo à atuação urgente das autoridades para que Tarek seja retirado da Faixa de Gaza. Guilherme Vaz afirmou que o Executivo tem insistido “em fazer vista grossa, em não resolver esta situação”, mas acredita que, pela pressão que vão fazer, terá de dar esse passo.

Uma ação de extração e acolhimento de Tarek não seria inédita para Portugal, que já várias vezes pediu a saída de lusodescendentes de zonas de guerra, incluindo no ataque do Irão contra Israel. No depoimento enviado à FCSH, Tarek Al-Farra realça que esta situação não é só sobre ele, mas sobre todos os estudantes palestinianos que estão a lutar por sobreviver e querem continuar a estudar.

Texto escrito por Margarida Nogueira e editado por Hélder Gomes