ARQUIVO Reforma

PPR: reforma para si ou para o seu banco?

Se um aforrador tivesse investido o suficiente num PPR para ter o benefício fiscal máximo na factura de IRS desde 2004, teria recebido menos do que o banco que o gere.

Nuno Alexandre Silva

Nos dois primeiros meses de 2010, os fundos de poupança-reforma perderam mais de 4,7 milhões de euros do seu capital. Os resgates superaram as subscrições e seguiram a tendência que já vinha de Janeiro de 2009 e que se saldou por subscrições líquidas negativas superiores a 50 milhões de euros. Os números da Associação Portuguesa de Fundos de Investimento, Pensões e Patrimónios (APFIPP) combinam com os magros retornos dos produtos de poupança desenhados para os anos de descanso da vida activa.

Para um investidor que tivesse começado por aplicar 2000 euros, em Março de 2004, num dos planos poupança-reforma (PPR) que mantém a sua informação de comissões e unidades de participação na Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM), e mantivesse a estratégia em cada Março do ano seguinte, os resultados não são animadores. Com excepção do fundo do Banco Invest, o Alves Ribeiro PPR, que atinge uma rendibilidade anualizada de quase 4%, todos os outros produtos foram mais interessantes para os bancos do que para os subscritores.

E Fevereiro parece ter sido um mês de alvorada para os investidores já que todos os 9 fundos analisados tiveram mais resgates do que subscrições. O principal visado foi o BPI Reforma Segura PPR, que teve mais 1,83 milhões de resgates do que subscrições. Aquele que é o fundo desta categoria com a segunda maior carteira, que pesa cerca de 25% do mercado de fundos de poupança-reforma, tem o segundo pior desempenho neste exemplo de subscrição anual de 2000 euros desde 2004. A rendibilidade negativa para este período (Março de 2004 a Março de 2010) contrasta com as comissões encaixadas pelo banco em gestão e depósito, mas este não é o banco que mais cobrou neste período.

Comissões ultrapassam rendibilidades

O Barclays PPR cobrou anualmente 2% do valor do fundo enquanto os investidores preocupados com a reforma não foram além de ganhos anualizados de 0,66%, durante os seis anos. Mais uma vez, o fundo que se destaca é o Alves Ribeiro PPR, com comissões de gestão e depósito muito abaixo do retorno oferecido desde 2004, mas ainda assim acima da média de 1,46% de comissões suportadas anualmente com a gestão e o depósito dos planos poupança-reforma estudados. Contudo, o fundo não tem chamado a atenção dos investidores já que vale apenas 0,22% do mercado de produtos de reforma, de acordo com a APFIPP e tem menos de 1% do total da carteira do maior fundo da classe, o BPI Reforma Investimento PPR.

Os portugueses que seguem produtos de reforma têm o dom de estar principalmente investidos nos produtos com pior desempenho nos últimos anos. Os dois PPR do Santander e o par de planos de reforma do BPI são os preferidos pelos capitais dos investidores, mas são os fundos que conseguiram lidar melhor com o dinheiro aplicado nos últimos 6 anos, no exemplo estudado.