Imagine que chega à idade de reforma e, no mês seguinte ao da aposentação, recebe cerca de 60 por cento do seu último vencimento. A evolução demográfica do país aponta para esta realidade e não há reforma ou alteração às regras de cálculo das pensões que alterem esta verdade inconveniente. Por isso, se quiser realmente ter uns "anos dourados" após abandonar a vida activa é melhor pôr mãos à obra. Eis 4 conselhos para o conseguir:
Poupe o equivalente a 25 vezes do que necessitará por ano
Se ainda tem alguns anos de trabalho pela frente antes de se reformar, saiba que a Segurança Social nessa altura não dará as mesmas garantias de hoje. Os organismos internacionais e os especialistas estimam que a sua primeira pensão será equivalente a cerca de 60 por cento do último vencimento. São más notícias, mas, se agir já, pode dar a volta. Faça as suas contas: se estima que o seu último vencimento será de de 2000 euros por mês, na reforma pode contar com 1200 euros da Segurança Social, mas tem de desencantar os restantes 800 euros. Multiplique esse valor por 12 meses, o que dá 9600, e volte a multiplicar por 25. Resultado: precisa de acumular 240 000 euros. Se conseguir, em média, ganhar 4 por cento por ano nos "anos dourados", então terá um rendimento mensal de 800 euros e manterá para sempre o seu pé-de-meia de 240 000 euros.Se começar a poupar 185 euros por mês, aumentando este valor em 2,5 por cento todos os anos, em 30 anos chega aos 240 000 euros, se conseguir uma rendibilidade anual de 6 por cento; se só tiver 20 anos pela frente até à reforma, tem de começar a aforrar 240 euros por mês; e, se faltarem 10 anos para deixar de trabalhar, tem de começar com pouco mais de 400 euros por mês.
Os PPR não são para todos
A proposta do Governo para o problema das pensões são os planos de poupança-reforma. Para incentivar a população a preparar a velhice, as aplicações em PPR têm uma dedução à colecta de 20 por cento das entregas (até 400 euros), ou seja, no ano seguinte a investir recebe até um quinto do dinheiro das Finanças. Além disso, quando chegar a altura de receber o dinheiro na velhice, se preferir ter um complemento periódico à sua pensão, as receitas dos PPR são tributados com se fossem rendimentos de pensões. Em alternativa, se o dinheiro for resgatado de uma só vez, será tributado a uma taxa liberatória de 8 por cento, o que é bastante baixo. Feitas as contas, os PPR são bons negócios? Não, na maioria dos casos não são a solução certa para si. Para começar, os PPR são caros. Como as pessoas vão atrás dos benefícios fiscais, as entidades gestoras abusam nas comissões.
Nos últimos anos, a tendência é para os custos descerem, mas, mesmo assim, a moda é haver uma comissão de subscrição de 1 ou 2 por cento das entregas e uma comissão de resgate de 0,5 por cento sobre as saídas, se forem efectuadas nas condições previstas. Numa aplicação de 1500 euros, a existência de uma comissão de subscrição de 1,5 por cento e uma comissão de resgate de 0,5 por cento representa uma diferença de quase 130 euros depois de 25 anos de capitalização. Além de caros, os PPR também são pouco flexíveis. Imagine que, alguns anos depois de subscrever o PPR dos seus sonhos, percebe que lhe saiu o tiro pela culatra: enquanto a concorrência está a ganhar bastante, o seu dinheiro está a desvalorizar. O que fazer? A primeiro hipótese é resgatar o capital. Porém, além de se candidatar a pagar a pesada comissão de resgate fora das condições previstas, o fisco exige-lhe que devolva os benefícios fiscais acrescidos de 10 por cento por cada ano que tenha passado desde que os recebeu. Ou seja, se demorar 10 anos a perceber que não é o PPR certo, tem de devolver o dobro dos benefícios fiscais que recebeu. Nestes casos, opte pela transferência do PPR para outra instituição. Desta forma não será penalizado pelo fisco e as comissões a pagar não podem ir além dos 0,5 por cento.
Contudo, o pior dos PPR é mesmo o desempenho: 1 em cada 2 planos de reforma existentes em Portugal rendeu menos do que a inflação nos últimos anos. Esta conclusão é optimista, porque não inclui a tributação e as comissões de subscrição e de resgate. E se se incluir o benefício fiscal que se recebe no ano a seguir à aplicação? A situação melhora, mas não muito, além de que a dedução não é garantida nos anos futuros. Já se sabe que quem não arrisca não petisca, só que os gestores dos PPR não podem arriscar por lei: o máximo que podem aplicar no mercado accionista, uma fonte de bons desempenhos de longo prazo, é 55 por cento da carteira. Uma vez que muita gente não mexe no dinheiro durante muito mais do que 10 anos, não seria melhor deixá-los arriscar mais? Conclusão: se tem menos de 55 anos, não confie a sua reforma a um PPR.
Simplifique a sua reforma
Os reformados que quiserem deixar de se preocupar com o dinheiro podem entregá-lo a uma seguradora, em troca de uma renda vitalícia. Por exemplo, com 100 000 euros pode comprar aos 65 anos uma pensão adicional de cerca de 500 euros por mês, para o resto da vida. Também pode combinar com a seguradora um aumento anual: 100 000 euros começam por lhe dar cerca de 400 euros por mês a partir dos 65 anos, aumentando 3 por cento por ano. Uma vez que é uma decisão que define a sua qualidade de vida durante os "anos dourados", vale a pena andar à caça da seguradora que lhe dá a maior pensão com o mesmo dinheiro. Além disso, se for um montante considerável, pode dar-lhe mais tranquilidade de espírito espalhá-lo por várias seguradoras, não vá o diabo tecê-las.
Ajude a sua família a fazer o planeamento
No planeamento financeiro da sua vida, conte com a ajuda a familiares. Provavelmente, os seus pais não tiveram tanta informação sobre finanças pessoais como o leitor, pelo que podem não estar preparados para enfrentar alguns desafios monetários. Os seus filhos ainda não tiveram tempo para amealhar dinheiro, por isso, se quiserem ter estudos de pós-graduação ou se desejarem comprar uma casa maior para abrigar os seus netos, podem necessitar de ajuda. Pense nisso.