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ARQUIVO Sabores

Fomos ‘comer’ São Miguel

Queijos afinados com vários meses de cura, frutas e legumes biológicos, carne maturada, e peixes capturados com a técnica japonesa de ‘ikejime’. São os Açores a caminharem para serem um destino gastronómico

O Rei dos Queijos, no Mercado da Graça, em Ponta Delgada, começou por ser uma mercearia e é hoje uma das bandeiras dos Açores

As mãos pegam em duas grandes bolsas carnudas de um cinza-negro brilhante, e num balouçar delicado tenteiam-nas entre o par de luvas azuis. “Olhe para isto! É um espetáculo de animal”, afirma orgulhoso Emanuel Freitas, mostrando-nos parte da genitália de um novilho angus. O macho é o responsável pelo pequeno harém que Emanuel tem a pastar num terreno da Fajã de Baixo. São uma boa meia dúzia de fêmeas, umas já paridas, na companhia dos seus bezerros, e outras em gestação após terem sido cobertas pelo majestoso aberdeen-angus. O focinho afilado e a expressão austera indiciavam estarmos perante uma fera, porém a negritude do pelo luminoso não escondia o olhar meigo e a pose introvertida que revelou durante a nossa visita. Um dos novos caminhos que está a ser traçado nos Açores é a produção de carne maturada de elevada qualidade graças às pastagens locais e ao cruzamento entre raças. Andámos à descoberta de produtos regionais que nos últimos anos têm recebido o olhar atento de alguns cozinheiros para dar outra dimensão à gastronomia açoriana.

O dia tinha começado bem cedo à porta do Azor, o vistoso hotel de cinco estrelas com decoração da madeirense Nini Andrade e Silva, mas que por aqueles dias se encontrava adormecido à beira da marginal de Ponta Delgada. A acompanhar-nos está Cláudio Pontes, o chefe de cozinha do restaurante À Terra, e que à data da nossa passagem em São Miguel ainda aguardava a reabertura da unidade hoteleira a seguir ao confinamento. Cláudio tem aproveitado o interregno para preparar a nova carta e manter as visitas aos seus fornecedores habituais.