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O Mitológico

Obrigado wonderbra

Demonizado, dado como morto várias vezes, uma pequena homenagem exige-se

Sou uma pessoa atenta a certas injustiças e quando hoje leio títulos a glorificar, a saudar, a exultar a morte do sutiã “que levanta e aperta” não deixo de considerar uma iniquidade que tal aconteça como sendo um ato celebratório e que se omita e renegue o reconhecimento que merece esta peça de roupa íntima. Embora nunca tenha usado um, aqui me apresento para repor a verdade — ou o que me parece ser a minha visão desta. O wonderbra quando surgiu na década de 90 foi uma alegria, uma explosão de autoconfiança feminina, via-se para lá de qualquer dúvida se uma mulher estava a usar um. E se as vendas estão a diminuir duvido que seja — estou a citar uma publicação feminista — “porque as mulheres estão a recusar sucumbir à versão heteronormativa da sexualidade feminina”. Posso falar pelas mulheres em 2023? Óbvio que não. Posso perguntar a algumas? Ainda posso. E ouvi de tudo. Que tinham optado por sutiãs mais confortáveis para o dia a dia mas em dias especiais aquele “levanta e aperta” não é despiciente, houve mulheres que com silicone colocado pelo doutor não precisam de ajuda antigravitacional e mulheres com seios grandes naturais que me garantiram que só sutiãs com arames permitem suster os ditos e não ter dores nas costas. Ora, esta amostragem não é o mundo mas serve para contestar a ideia dessa revolta de queima de wonderbras durante a explosão #Metoo em 2018 (não dei por ela) e que agora se terá acentuado no pós-pandemia — o chamado “grande desleixo” — mas acredito piamente que esteja a acontecer, da mesma maneira que, por todo o lado, leio artigos de como de facto não está a regressar aos escritórios.

Este é um artigo do semanário Expresso. Clique AQUI para continuar a ler.