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O Mitológico

A medieval praga da dança

Os santos foram engolidos por uma ancestral histeria em massa

Se por algum acaso ficcional tivesse tido oportunidade de mostrar, por esta altura, Lisboa numa volta noturna de tuk-tuk ao famoso pintor flamengo Pieter Bruegel (uma sorte, dado que morreu em 1569), tenho a certeza de que ele diria que a cidade estava assolada pela ‘praga da dança’, também conhecida no seu tempo por ‘tarantismo’ ou ‘doença de são Vito’ — mártir da Igreja que se celebra a 15 de junho e é o padroeiro da dança. Bruegel retratou várias situações da referida praga demoníaca. Bem lhe poderia dizer que não, que eram só as pessoas que estavam muito animadas por estarem a comemorar o santo António e outros santos juninos e que tinham estado trancadas devido à pandemia — pois, ainda não acabou essa praga e possivelmente estão a recontaminar-se — e que agora queriam era dançar sem parar horas seguidas ao som de ‘Bella Ciao’ ou ‘Bacalhau à Portuguesa’. E Bruegel far-me-ia o relato dos casos de ‘praga da dança’ que testemunhou e pintou, nomeadamente a grande crise de Estrasburgo de 1518 sobre a qual até fez um quadro (e vários esboços) em que se podem ver camponeses a segurarem mulheres para que estas não dancem, mas onde estão igualmente presentes um par de gaiteiros de foles meio assustados a tocar.

Este é um artigo do semanário Expresso. Clique AQUI para continuar a ler.