Portugal tem potencial para “bater acima do seu peso”, na Europa e no Mundo, assim que consiga definir e implementar uma estratégia centrada nas suas competências nucleares, que potenciem os recursos do país e o muito que de bom se tem feito. Muito mais fácil dizer do que fazer, mas ficam algumas reflexões sobre aquilo em que somos realmente bons e diferenciados e algumas ideias, em bruto, sobre possíveis áreas de aposta, ou alavancas que podem funcionar como facilitadores em múltiplos campos. Devemos ser equilibrados nas escolhas e não podemos ser puristas. Mas acredito firmemente nas possibilidades de Portugal, neste século da sustentabilidade e do digital.
Portugal é um país relativamente pequeno (à escala global) e periférico (na Europa). É óbvio dizer-se, mas vou dizer na mesma. Portugal não vai ser um bom competidor em negócios de enorme volume / escala. Não temos armas para competir, nomeadamente, com as grandes Nações Asiáticas. Depois, somos o que somos e temos os recursos endógenos e as competências que temos. Não sou fatalista, antes pragmático. Devíamos olhar então para: 1) aqueles negócios em que a escala e o fato de sermos periféricos são irrelevantes – por exemplo aqueles que são baseados no conhecimento, nos dados, na criatividade; e/ou 2) aqueles negócios em que temos um bom equilíbrio entre escala e flexibilidade – por exemplo, áreas que envolvam produção a uma escala intermédia e que valorizem o binómio velocidade vs custo; e/ou 3) aqueles negócios que valorizem as nossas competências nucleares e o nosso “saber fazer”, bem como os nossos recursos endógenos – aqui numa interpretação larga, podem ser recursos energéticos primários, a beleza natural do país, experiência de longos anos na Indústria têxtil especializada, alguns produtos agrícolas “site specific”, mas também a boa capacidade de integrar diferentes culturas, o nosso clima moderado, etc.
Mas se temos tanto potencial porque é que ciclicamente estamos com problemas de sustentabilidade e nos voltamos a perguntar qual o melhor caminho? Algumas questões que nos podemos colocar:
- Temos um Estado facilitador, regulador e não intrusivo? Eu vejo o Estado como um CEO de uma grande empresa: deve criar um ambiente propício ao desenvolvimento, não deve querer intervir em todos os aspetos, deve decidir, deve apontar caminhos e assegurar que se cumprem, a médio/longo prazo. Deve pugnar pela sustentabilidade e pela rentabilidade. Temos um Estado assim?
- Temos uma cultura empresarial que assume risco, ou ainda gostamos muito de ter uma rede de segurança (no Estado), como os trapezistas no circo?
- Temos um ensino exigente, inclusivo, transversal? Que dá igualdade de oportunidades, eliminando barreiras e ajudando quem mais precisa?
- Temos todas as infraestruturas necessárias e ajustadas à estratégia que definamos para o País? Esta é uma questão de “ovo e galinha”… por um lado devemos considerar o que temos e adaptar a estratégia, por outro, podemos decidir construir algumas novas infraestruturas por serem instrumentais para a estratégia escolhida – por exemplo, o tema do caminho de ferro, para pessoas e mercadorias, e a ligação com a Europa.
Estratégia é sinónimo de escolha. Portugal tem que escolher. Ponderando os 3 fatores acima apontados (relembro: 1) negócio de conhecimento / criatividade; e/ou 2) mix adequado entre escala, especialização e flexibilidade; e/ou 3) aproveitar o que temos), eu fiz as minhas 7 escolhas:
1 – Portugal campeão mundial da sustentabilidade
Imagino um país 100% baseado em energia verde, abundante no país e já competitiva (eólica, solar, hídrica, potenciados pelo armazenamento de energia e o hidrogénio verde). Com política pública que incentive que parte da cadeia de valor esteja em Portugal, desenvolvendo a fileira industrial da renováveis, apoiando o desenvolvimento de tecnologias ainda imaturas (mas instrumentais) como armazenamento ou H2). Mobilidade sustentável, elétrica e partilhada, em cidades de futuro que resultam da agregação inteligente de comunidades de energia e clientes ativos, tudo suportado em modelos de mercado competitivos e inovadores, que potenciem a flexibilidade e a eficiência.
2 – Portugal hub de inovação digital
A boa infraestrutura digital de Portugal, um ecossistema de inovação pujante tendo como bandeira o Web Summit poderá ser um backbone para a captação de centros de I&D das “GAFAs” (Google, Apple, Facebook, Amazon…), criando um “Portugal Digital Valley”, atraindo talento e um “novo mindset”, que poderá “empreendificar” Portugal.
3 – Portugal fábrica especializada da Europa
Posicionar Portugal junto de todos os mercados e negócios, nomeadamente têxteis e calçado especializados e de luxo, que necessitem de escala de produção intermédias, mas que exijam muita flexibilidade e velocidade. Portugal como o país mais competitivo, na produção especializada, na Europa / Mundo Ocidental.
4 – Portugal e agricultura do futuro
Alavancar na tecnologia e no digital para otimizar processos agrícolas nos nichos que fazem sentido para Portugal: vinho, azeite, cortiça, alguns hortofrutícolas, etc. Práticas sustentáveis e digitais, posicionando os produtos Portugueses num quadrante de Alta Qualidade, elevada sustentabilidade, preço médio.
5 – Portugal, “the feel good country”
O inevitável turismo. Portugal tem condições excelentes e deve continuar-se o bom trabalho no posicionamento de Portugal enquanto país de turismo de qualidade, diverso – praia, cultura, cidades, pessoas, sustentabilidade, apostando em nichos de maior valor acrescentado (turismo de saúde sénior, etc.) ou de maior Life Time Value (estudantes de Erasmus, etc.).
6 – Portugal e o mar que nos liga
Foco no mar enquanto meio de comunicação entre América e África e a Europa, com necessário reforço infraestrutural que posicione Portugal como porta de entrada na Europa. Mas também na valorização da exploração mineral, a fileira do pescado de qualidade e alguma indústria de transformação de qualidade e, finalmente, das energias renováveis marinhas.
7 – Portugal e os serviços globais
Portugal tem excelentes universidades e centros de I&D. Temos uma comunidade crescentemente formada e empreendedora. Temos boa infraestrutura digital. Com a pandemia, o digital ganhou preponderância e os países periféricos viram a sua excentricidade mitigada. Estamos no ponto ótimo para fazer valer as nossas ideias, a nossa criatividade… assim sejamos capazes de criar modelos de negócio escaláveis e “geograficamente agnósticos” que possam servir clientes no mundo inteiro.
Por fim, deixo algumas sugestões de alavancas que considero potenciais facilitadores e criadores de um ambiente de negócios estável e competitivo:
- Acelerar o esforço de desburocratização do estado, nomeadamente ambientes regulatórios claros, simples, estáveis e flexíveis (implementar algumas regulatory sand boxes, onde negócios e tecnologias emergentes possam ser testadas, sem morrer na burocracia)
- Políticas públicas de suporte à estratégia desenhadas para o médio/longo prazo, desacopladas dos ciclos políticos
- Aposta fortíssima na educação, atraindo também o talento internacional e aceleração da aposta no digital em toda a sociedade.
Não vai ser fácil, mas comecemos já hoje. Viva Portugal!
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