Ter agora os propagandistas das redes sociais inquietos com a privacidade é como encontrar marxistas a defender a propriedade privada. Deixemo-nos de sofismas: para a “ideologia Facebook” a privacidade não é um bem que lamentavelmente sofreu com a inovação tecnológica; é um resquício histórico inaceitável numa sociedade “transparente”. Zuckerberg admitiu no Congresso americano que nunca imaginou que os dados dos utilizadores pudessem ser usados para fins perniciosos, o que nos diz muito sobre a sua cabecinha inimputável. Mas podemos presumir que o velho Marx também não lamentaria o fim da privacidade, ainda que por razões bem diferentes: “Nenhum dos chamados direitos do Homem vai, portanto, além do homem enquanto membro da sociedade burguesa, a saber: um indivíduo remetido a si, ao seu interesse privado e ao seu arbítrio privado, e isolado da comunidade.” O que é curioso é que o fim da privacidade não tornou o indivíduo menos isolado da comunidade, apenas mais desprotegido, e vítima mais frequente do arbítrio de terceiros.
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