Opinião

Literacia e o pote de ouro do futuro tecnológico

Esta revolução tecnológica que se encontra em curso levanta uma questão de fundo que não pode ser negligenciada e que é determinante para que as empresas possam crescer sustentadamente

O que nos ocorre quando pensamos em literacia? Pois bem, tanta coisa! O conceito é tão amplo que não se reduz meramente às capacidades básicas de ler e escrever, mas também abrange a capacidade de compreender e aplicar o conhecimento de forma crítica em diferentes campos, podendo, por isso, ser desdobrado em várias dimensões.

Por estar ligada a uma área que me diz muito – a área das tecnologias – e também porque ontem se celebrou o Dia Internacional da Literacia, dedico este texto à literacia tecnológica, procurando explorar diferentes aspetos sobre o tópico e mostrar por que razão devem as empresas olhar para as universidades como aliadas perfeitas, para aumentar a literacia tecnológica dentro de portas.

Mas comecemos pelo mais óbvio: nos dias de hoje, não existe nenhuma empresa sem tecnologia. As tecnologias são fundamentais para a transformação das empresas, permitindo-lhes crescer a um ritmo nunca antes visto e manter-se à frente da concorrência com uma vantagem competitiva de longo prazo. Da inteligência artificial (IA) às big data, passando por softwares de gestão ou soluções baseadas em nuvem, estas ferramentas tecnológicas de última geração impactam transversalmente em todos os aspetos das operações e prometem dar resposta a objetivos estratégicos, tais como automatizar processos, melhorar a tomada de decisões, aumentar a produtividade ou elevar os níveis de eficiência.

Dadas as potencialidades que se conhecem, isto é, por tornarem as empresas mais eficientes, mais produtivas, mais inovadoras e mais competitivas, as tecnologias são consideradas como o principal motor de crescimento das empresas e, por isso, não é ao acaso que as empresas que procuram prosperar têm vindo a apostar fortemente nas novas tecnologias.

Contudo, esta revolução tecnológica que se encontra em curso levanta uma questão de fundo que não pode ser negligenciada e que é determinante para que as empresas possam crescer sustentadamente: a literacia tecnológica.

A literacia tecnológica de uma empresa consiste num barómetro para avaliar a sua capacidade de fazer uma utilização plena e eficaz das tecnologias, desde a sua compreensão até à aplicação de tecnologias avançadas nas operações diárias.

Assim, de nada vale que as empresas realizem um forte investimento nas novas tecnologias sem antes traçarem um plano para aumentar a literacia tecnológica dos seus colaboradores. Dotar as pessoas de um conhecimento tecnológico adequado que lhes permita perceber como tirar o máximo partido destas tecnologias, é, pois, o primeiro passo a ser dado nesta jornada de crescimento das empresas.

É neste contexto que as universidades podem dar um forte contributo. Reconhecidas como importantes catalisadores do conhecimento e da inovação desde o início da sua existência, as universidades têm desempenhado um papel crucial no que toca à adaptação das empresas aos desafios de um mundo em constante mudança. A atual conjuntura que o mercado atravessa colocou em especial evidência esta sua missão de formar os profissionais das tecnologias do amanhã, mas também as potencialidades daquilo que um estabelecimento de ensino pode oferecer.

Nesse sentido, a ponte criada entre a comunidade estudantil e o tecido empresarial português tem sido reveladora do seu valor, nomeadamente pela forma como promove a aprendizagem dos estudantes universitários através de experiências práticas realizadas num contexto de trabalho real e com um impacto positivo nas empresas. Através da criação de júnior empresas, a aproximação dos estudantes ao meio empresarial tem sido alcançada, mas essa estratégia tem de ser reforçada em prol da qualificação e emprego da próxima geração de especialistas em tecnologias, do fortalecimento de laços entre a academia e as empresas e da disseminação do conhecimento tecnológico, de forma a melhorar a literacia tecnológica.

Não tenhamos dúvidas que a valorização do talento e do conhecimento são a chave para garantir um futuro tecnológico. Um pote de ouro que as empresas podem encontrar não no fim de um arco-íris, mas nos estabelecimentos de ensino superior.