É bom ver que algumas indústrias emergentes começaram a ser ouvidas nesta campanha eleitoral. Finalmente temos esboços frescos de visões para o futuro, já que não se debate crescimento com estratégia nem sustentabilidade e que cortes e contas certas são consensuais, mas não solução. De outra forma não resolvemos os problemas estruturais. Vamos então analisar o que se programa para estas novas economias.
Considerações gerais por um lado, outra boa nova: ninguém se apropria da transformação digital. A maioria dos partidos exultam o seu potencial no público e privado. Alguns até aplaudem o impacto socioeconómico da digitalização, mesmo que algumas das suas vertentes tenham servido para expiar certos males como a falta de política de habitação. Por aqui nem o Bloco pega. Mas cai noutro erro e só se foca no reverso da medalha, criticando “a tecnologia ao serviço do crime económico”. Pior, repete mentiras sobre blockchain popularizadas no Congresso dos EUA, entretanto refutadas pelo executivo. Aliás, descobriu-se que essa narrativa falsa teve origem no lobby de Wall Street – os extremos atraem-se!
Por outro lado, até o PCP defende que precisamos de uma estratégia nacional para estes sectores que “respeite os direitos do cidadão”. E o Livre, pródigo em ideias de investimento “na economia digital”, incluindo na cultura e na privacidade, mostra que há quem perceba que esta também serve os valores de esquerda. Ou seja, salvo a excepção do BE, todos os partidos com assento têm ideias interessantes para a promoção da inteligência artificial, da blockchain e da indústria cripto. Uns mais focados nos detalhes particulares de cada tecnologia, como no caso do PS com a “concretização da Estratégia Digital 2030” e das “Estratégias Nacionais para a IA e para a Web3”. Ou, como no caso da AD, numa “Estratégia Digital Nacional” mais abrangente. E até há dois partidos que vão mais fundo. O Chega mostra que percebe o impacto da cripto economia em Portugal, que é de facto considerado um dos centros de referência a nível mundial, assim como o papel da blockchain na modernização da Administração Pública e da Segurança Social, e a importância da “aposta na educação tecnológica” para fortalecer as bases da formação em ciência, tecnologia, engenharia e matemática, áreas essenciais para se elevar a produtividade e salários nacionais. E a IL quer capitalizar o estatuto de hub Web3, alargá-lo a outros sectores e criar condições para que o talento não só viva cá, mas também estabeleça as suas empresas.
Em resumo, não sendo nenhuma panaceia, a intersecção e combinação destes sectores é crítica para desbloquear os impactos mais duradouros da transformação digital, indo para além da poupança e da desburocratização que todos abraçam. Como? Agora que sabemos que os partidos não ignoram o tema, vamos aguardar pelas eleições para defender onde é que Portugal deve competir e como é que pode ganhar. Porque não basta escrever bons programas, é preciso ter a capacidade de os implementar.
Hugo Volz Oliveira é secretário do Instituto New Economy, que agrega líderes de indústria e cidadãos que queiram promover a participação Portuguesa na economia digital; organizando eventos educativos, publicando artigos de investigação, e criando comissões de melhores práticas e de ética sobre tecnologias emergentes.
Nota: O autor escreve ao abrigo do Antigo Acordo Ortográfico.