O Instituto Politécnico da Guarda (IPG) lançou um livro branco digital com informações técnicas e práticas para apoiar os cuidadores de pessoas idosas. O trabalho surge no âmbito do projeto EducAGE – coordenado pela instituição –, que pretende melhorar as competências dos cuidadores dos mais velhos, com base na transformação digital da formação.
O ponto de partida para a criação do livro foi o facto de existirem “várias organizações, a nível nacional e internacional, que vão publicando e atualizando informação que é relevante”, mas “muitas vezes essa informação não chega ao utilizador final”, explica Carolina Vila-Chã, professora do IPG responsável pela coordenação do projeto, ao Expresso.
O objetivo foi “sintetizar estas linhas orientadoras e tendências internacionais, do ponto de vista da promoção do envelhecimento saudável, num livro”. A informação está organizada “em pequenos tópicos” e é apresentada “de forma atrativa e interativa”, incluindo ferramentas que permitem aprofundar as temáticas, como “links para exercícios ou vídeos no YouTube”. O trabalho contou com o contributo da Sociedade Portuguesa de Literacia em Saúde, que fez uma revisão para simplificar a linguagem.
O livro – gratuito e acessível para qualquer pessoa consultar ou descarregar – está organizado em “três áreas essenciais”. A primeira foca-se na “prevenção do declínio funcional”, que é o “objetivo central” da Organização Mundial da Saúde para a Década do Envelhecimento Saudável (2021-2030). Trata-se de “promover a qualidade de vida e, acima de tudo, diminuir ao máximo o declínio funcional das pessoas mais velhas”, aponta Carolina Vila-Chã. “Para contribuir para esse retardar do declínio funcional há vários fatores, desde a alimentação, a atividade física, a saúde mental, a estimulação cognitiva e a manutenção ou, pelo menos, estar atento ao declínio dos sistemas sensoriais.”
O segundo módulo abrange a “gestão das doenças crónicas”, como a diabetes ou doenças cardiovasculares, mas também problemas como a incontinência urinária ou úlceras por pressão. “Há várias medidas que se podem ir tomando no sentido de gerir melhor as doenças e retardar os efeitos secundários nefastos”, indica a investigadora. Este capítulo dá “dicas aos cuidadores informais de como é que podem, através de pequenas estratégias ao longo do dia, melhor gerir estas doenças ou prevenir que elas se agravem”.
O último módulo “está centrado no próprio cuidador”, particularmente aqueles que “estão a tempo inteiro, com familiares ou pessoas próximas, e que muitas vezes sentem stress e ansiedade na gestão deste processo todo”. Para tentar evitar que também eles sofram de problemas de saúde física e mental, o intuito é “ajudá-los a identificar se estarão a entrar numa situação de burnout e compreender que há entidades que podem dar apoio”. “E as pessoas também estarem conscientes que não há problema nenhum em retirarem algum tempo para elas, para se cuidarem. Porque se elas se cuidarem bem, também cuidarão bem dos outros. Estarão mais capazes porque também se sentem melhor.”
Ferramentas de aprendizagem informal
Carolina Vila-Chã conta que o EducAGE nasceu como “consequência da identificação de necessidades no terreno”, durante a implementação de projetos associados à “promoção da atividade física e da melhoria da capacidade funcional dos idosos”. “As pessoas que estão a cuidar dos mais velhos, não só os cuidadores informais, mas também nos centros de dia, indicavam várias vezes que sentiam a necessidade de melhorar a sua formação para poder melhor lidar com o processo de envelhecimento de quem acompanham”, enquadra.
Foi assim que surgiu o projeto, “centrado na educação informal para adultos”, para “disseminar e ampliar o conhecimento na promoção de um envelhecimento saudável”. Fazem parte, além do IPG, o Laboratório Colaborativo Montanhas de Investigação (Bragança), o Centro de Cirugía de Mínima Invasión Jesús Usón (Espanha), a Faculdade de Medicina da Universidade Semmelweis Egyetem (Hungria) e as faculdades checas de Medicina da Universidade Karlova e de Informática e Gestão da Universidade Hradec Králové.
O livro é uma das ferramentas preparadas para ir “ao encontro das necessidades e dos anseios dos cuidadores informais, mas também de qualquer outra pessoa que queira aprender mais neste âmbito”. O grupo está neste momento a finalizar uma formação em modelo híbrido, assente nas três áreas “na mesma linha do livro”.
“Será um curso de 32 horas e meia, em que pelo menos sete horas e meia serão presenciais, para que as pessoas possam ir aprendendo ao seu passo, através das plataformas digitais, e com sessões presenciais para discutir dúvidas, o que é que aplicaram, o que é que correu bem e não tão bem, com peritos de cada um dos módulos”, detalha a docente.
Haverá ainda uma aplicação de telemóvel em que “estes conteúdos serão disponibilizados em formato de dicas e quizzes”, onde será possível “ir respondendo e testando o conhecimento”, assim como “ir lendo pequenas dicas” de temas como atividade física ou alimentação, numa espécie de “versão gamificada” da informação.
Lançado em 2022, Longevidade é um projeto do Expresso – com o apoio da Novartis – com a ambição de olhar para as políticas públicas na longevidade, discutindo os nossos comportamentos individuais e sociais com um objetivo: podermos todos viver melhor e por mais tempo.
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