Longevidade

Há um "potencial enorme para criar novos negócios ou novas atividades económicas”

Ideia é de João Rui Ferreira, secretário de Estado da Economia, que integrou hoje a reunião do conselho consultivo do projeto Longevidade. O dia ficou ainda marcado pelas “Conversas sem fim”, que abordaram o tema “meia-idade e cuidadores informais”. O evento, que decorreu no Palco Impresa, faz parte do projeto do Expresso, que conta com o apoio da Novartis

Fazer a avaliação de como é que as políticas públicas relacionadas à longevidade estão presentes em Portugal e propor estratégias para enfrentar os desafios associados ao envelhecimento da população foram alguns dos objetivos da reunião de hoje do conselho consultivo do projeto Longevidade.

De manhã, e durante cerca de uma hora e meia, o debate contou com Ana Sepúlveda (CEO da 40+Lab e presidente da Age Friendly Portugal), Nuno Marques (médico), Mourad Aboubakr (diretor geral da Novartis Portugal) e Paulo Alexandre Duarte de Sousa (provedor da Santa Casa da Misericórdia), membros do conselho consultivo. A conversa teve como convidados João Rui Ferreira (secretário de Estado da Economia), Liliana Chaves Gonçalves (presidente da Associação Nacional de Cuidadores Informais) e Ana Luís Pinto (diretora executiva da Cuidadores).

No final, João Rui Ferreira, secretário de Estado da Economia, confessou que a reunião “foi muito enriquecedora e bastante produtiva”: “Trouxe-me uma visão e ângulos diferentes, mas, sobretudo, penso que traz uma visão consensual de que é um tema sobre o qual não podemos deixar de olhar. Por todas as razões, materiais e imateriais, que ele traz, sobretudo porque temos uma pirâmide e uma demografia que é conhecida e é preciso dar respostas”, acrescentou.

Para o governante ficou claro que “a economia é transversal a muitos destes sistemas, mas, sobretudo, na relação das empresas e dos trabalhadores com o tema”. E prosseguiu: “Houve uma grande identificação daquilo que vou sentindo, que há aqui um potencial económico enorme do ponto de vista quer da criação de novos negócios, quer do desenvolvimento de novas atividades económicas, num ecossistema que de facto existe, de uma população que continua ativa, quer no investimento, quer no consumo, mas que pode ser também um grande fator de transmissão de conhecimento, de reflexão conjunta e, de facto, integrar entre gerações uma lógica de acrescentar valor, quer no mundo empresarial, quer no investimento público”.

João Rui Ferreira falou ainda do “compromisso” e de “um plano” focado no estatuto da pessoa idosa, que foi aprovado no final do ano. "E também a continuação da implementação do plano e de bastantes medidas já em curso ou implementadas”. “O envelhecimento ativo é um tema ao qual o Governo dá atenção”.

“Ouviram também da minha parte que há aqui uma visão de preocupação com o tema, que nos deve mover a todos, mas também de visão interessada, porque há de facto um potencial de desenvolvimento económico, que é muito interessante nesta área, como desenvolvimentos de tecnologias, naquilo que é a indústria farmacêutica, mobilidade, adaptação dos espaços e tecnologias, também naquilo que é a atração de startups e desenvolvimento tecnológico nestas áreas”, prosseguiu.

Na sua opinião, “foi um ótimo momento de reflexão e de pôr um chapéu num tema que é tão transversal e que nos move a todos”. “É um tema bastante importante e tem um potencial que nem sempre vislumbramos e, às vezes, temos a tentação de um ângulo mais negativo e, provavelmente, terá ângulos muito mais positivos do que aqueles que estamos a antecipar”, concluiu.

Cuidadores informais e tanto para fazer

Para a parte da tarde ficaram reservadas as “Conversas sem fim”. Antes, Paula Albuquerque, economista e professora auxiliar com agregação no ISEG, procurou respostas para a pergunta “a meio caminho da longevidade?” e colocou o foco nas relações entre gerações, classificando-as de “verdadeiramente importantes”.

Falou-se de “Meia-idade, longevidade e cuidadores informais” e, aqui, a palavra foi dada a Rita Piçarra, autora do livro “A vida não pode esperar”, Catarina Alvarez, membro da Plataforma Saúde em Diálogo e representante da Associação Alzheimer Portugal, e Sara Correia, enfermeira no Hospital Pulido Valente (cuidados paliativos).

Sara Correia, que integra um projeto que vai a casa dos doentes, alertou para o facto dos cuidadores informais precisarem também eles, muitas vezes, de apoio, “tal o cansaço físico e emocional em que se encontram” - razão pela qual a equipa da qual faz parte também tentar encontrar soluções, sempre que é preciso, para quem acompanha os doentes poder descansar.

“O grande problema em Portugal é que este projeto não seja replicado em todo o país. É uma das nossas reivindicações”, afirmou Catarina Alvarez.

“Há três aspetos que termos de ter em conta e fazer mudar. Primeiro, melhorar as políticas públicas relacionadas com os cuidadores informais. Robustecer as políticas públicas. E depois implementá-las, porque se nós formos ver o número de cuidadores informais que estão reconhecidos, que ascendem a perto de 16 mil, comparado com o que se estima existir, desde 800 mil a 1,4 milhões de cuidadores informais em Portugal, conseguimos perceber a disparidade e que as políticas públicas que estão a ser implementadas não estão a chegar às pessoas”, disse Catarina Alvarez. “E as medidas que foram desenhadas, e estão a ser implementadas, também não são suficientes. E do ponto de vista financeiro é gritante. O cuidador informal não principal, aquele que trabalha, que têm de conciliar a sua profissão com os cuidados, precisam de apoio financeiro acrescido, pois, muito provavelmente, vai poder trabalhar menos horas, sendo que essas horas que não trabalha têm de ser, necessariamente, compensadas”, acrescentou.

Para Catarina Alvarez, “precisamos de trabalhar nestes três pontos para que, de facto, mais cuidadores informais em Portugal sejam efetivamente acompanhados, e não estamos a falar de uma corrida de 100 metros, mas sim de grandes maratonas, sendo que este é um serviço insubstituível na sociedade”.

Rita Piçarra, por seu turno, ressalvou a importância de um estilo de vida saudável “para vivermos mais e melhor”.

O final da jornada ficou marcado pela gravação do podcast “Viver sem idade”, que contou com a participação de Carlos Morais (Fundação Portuguesa de Cardiologia), Francisco Machado (fisiatra), Mónica Velosa (gastroenterologia) e Ivoni Mirpuri (médica especialista em hormonas).