O jornalista e blogger Roman Protasevich, de 26 anos, é um opositor do regime da Bielorrússia - presidido pelo ditador Alexandr Lukashenko - desde os seus tempos de adolescente.
Para a detenção de Protasevich, Lukashenko forçou o desvio, para Minsk, de um avião comercial da Ryanair que voava de Atenas para a capital da Lituânia, Vilnius, a cidade onde vivia depois de ter estado na Polónia, e para onde se mudou em 2019 quando temia a sua detenção.
Protasevich foi cofundador e diretor dos canais Telegram Nexta e Nexta Live, ambos sediados na Polónia e com quase dois milhões de subscritores, que foram decisivos na organização dos protestos contra o dirigente do regime de Minsk depois das eleições presidenciais fraudulentas de agosto de 2020. Aqueles protestos denunciaram também a repressão violenta de manifestações pacíficas. De acordo com a BBC, alguns críticos questionaram no passado o Nexta sobre publicações de matérias que alegadamente não foram devidamente verificadas.
O jovem, atualmente a trabalhar para outro canal do Telegram, Belamova, é também um colaborador próximo da líder da oposição bielorrussa no exílio, Svetlana Tikhanovskaia, que está refugiada na Lituânia e que há uma semana seguiu a mesma rota do avião da Ryanair que agora foi desviado para Minsk.
Em 19 de novembro de 2020, Protasévich, juntamente com o fundador dos canais Nexta, Stepan Putilo, foi incluído numa lista de pessoas acusadas de “atividades terroristas” pelo Comité de Segurança do Estado (KGB) da Bielorrússia. Dias antes, ambos tinham sido acusados à revelia de organizar desordens maciças, de atentar gravemente contra a ordem pública e de incentivar a discórdia social. A acusação apontava aos 12 anos de prisão, mas os delitos terroristas de que era acusado podiam levá-lo à pena de morte, que permanece legal naquele país, conta a Al Jazeera.
Com apenas 16 anos, em julho de 2011, Protasevich foi detido durante uma manifestação contra Lukashenko, no quadro da designada “Revolução através das redes sociais”, onde se convocavam ações de protesto. A fotografia da sua detenção, partilhada amplamente nas redes sociais, converteu-o numa figura mediática. A sua pouca idade livrou-o de sanções penais, mas não de represálias: Protasevich foi expulso da escola e teve de continuar os seus estudos secundários noutro estabelecimento.
Depois da sua detenção, fez-se militante da Frente Juvenil e até 2012 foi um dos administradores de um grupo de opositores ao regime na rede social russa Vkontakte. Nesta altura, com 17 anos, foi também detido, lembra a France24: “Eles bateram nos rins e fígado. Urinei sangue durante três dias. Ameaçaram acusar-me de homicídios por resolver”, disse então.
A sua posição política não era partilhada pelo pai, então professor numa academia militar, nem pela mãe, uma crente ortodoxa, que, segundo o sítio bielorrusso belorus.partizan.by, queria submetê-lo a uma sessão de exorcismo.
Ingressou na Faculdade de Jornalismo da Universidade Estatal da Bielorrússia, mas foi excluído, o que não o impediu de trabalhar com vários meios informativos independentes, até que, no final de 2019, teve de sair do país e pedir asilo político, o que fez na Polónia, de onde saiu para Vilnius.
Há oito meses, os seus pais, receosos de sofrerem represálias pelas atividades políticas do seu filho, também saíram da Bielorrússia.
O pai do jornalista detido acredita que o regime contou com aliados. “Foi uma operação planeada de maneira minuciosa. Claramente, não foi num dia, quiçá, nem numa semana (…). E seguramente os serviços secretos bielorrussos não trabalharam sozinhos”, disse em declarações à rádio Liberty Dmitri Protasenko. Só assim se poderá explicar, afirmou, que as autoridades bielorrussas tenham cometido este “ato de terrorismo”, que corresponde a uma “cuspidela na opinião pública internacional”. Dmitri indicou que comunica quase diariamente com o seu filho, mas que este não o informa detalhadamente das suas deslocações.
Dmitri Protasenko acrescentou que não conhece Sofia Sapega, uma estudante russa da Universidade Humanitária Europeia de Vilnius que viajava com Roman e que os meios locais identificam como namorada. Sapega, uma estudante russa de Direito, de 23 anos, também foi detida no aeroporto de Minsk.
De acordo com a BBC, citando a Associated Press, quando Protasenko foi detido no avião terá dito às pessoas que o rodeavam que ia enfrentar a pena de morte.
A organização de defesa dos direitos humanos bielorrussa Vesna incluiu Protasevich na sua lista de presos políticos.