Há muito a fazer e pouco tempo para o concretizar. Esta é uma ideia muitas vezes repetida por ambientalistas e outros especialistas em sustentabilidade, que olham para as metas internacionais de descarbonização como ambiciosas no tempo que resta para as atingir. “Imagino que [em 2030] estaremos numa altura talvez ainda mais complicada, porque estamos numa crise climática que é cada vez mais visível”, perspetiva Francisco Ferreira, presidente da Zero e um dos 20 Líderes da Transição.
Para o responsável, “o grande dilema” é que, mesmo que a humanidade consiga “reduzir fortemente o consumo de combustíveis fósseis”, o clima “demora muito tempo a reagir” e as suas feridas saram lentamente. “Os indicadores, infelizmente, não são os melhores”, lamenta o perito.
Pensar e desenhar uma estratégia global para minimizar os impactos negativos das alterações climáticas é o grande objetivo das 20 personalidades eleitas pelo Expresso e que sugeriram, ao longo dos últimos meses, ideias para empoderar a sociedade neste caminho. Para debater os desafios e as oportunidades da descarbonização, juntámos estas vozes pelo clima numa reunião magna moderada pela jornalista Rosa de Oliveira Pinto.
Entre os presentes, contaram-se Álvaro Sousa (Keyou), Andreia Fernandes (InnoEnergy), Carlos Moreira (EDP Comercial), Catarina Martins (OpenBook), César Barbosa (Tuga Innovations), Débora Laborde (Oceanum Liberandum), Francisco Ferreira (Zero), João Rafael Santos (Faculdade de Arquitetura da Universidade de Lisboa), José Cardoso Botelho (Vanguard Properties), José Teixeira (dst group), Maria José Roxo (Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa), Miguel Marques (EDP New) e Nuno Brito Jorge (GoParity). Participaram ainda o CEO da Impresa, Francisco Pedro Balsemão, e Vera Pinto Pereira, CEO da EDP Comercial.
Conheça as principais conclusões:
- Catarina Martins, da OpenBook, acredita ser preciso “continuar a conversar sobre estas temas” e “não baixar os braços” por mais difícil que a neutralidade carbónica possa parecer. Para esta arquiteta, a forma como se desenham os edifícios e as cidades tem forte impacto na capacidade que a sociedade tem de atingir as metas ambientais. “Há uma preocupação dos meus colegas profissionais na integração de materiais que sejam cada vez mais locais, com menos emissões de carbono, que tenham uma pegada ecológica muito diminuta”, afirma;
- “Não há dúvida de que os edifícios mais recentes têm uma performance superior [em termos de eficiência energética]”, constata José Cardoso Botelho, que lembra que “a industrialização é um dos caminhos para construir mais, melhor e de forma muito mais sustentável”.
Conheça as principais conclusões:
Sensibilizar e informar é essencial
- Habituada a liderar ações de sensibilização para a limpeza dos oceanos, Débora Laborde reconhece que “a missão não é fácil” porque “ainda vivemos numa sociedade em que não existe muita preocupação ambiental”. E isso nota-se na forma como os cidadãos se comportam no dia-a-dia, reforça. “A Oceanum Liberandum, juntamente com outras entidades, recolheu apenas em dois dias mais dez toneladas de lixo em Portugal”, exemplifica;
- A professora catedrática e investigadora Maria José Roxo concorda, ainda que defenda que “não há que ter receio” de continuar a insistir neste caminho. Como perita na gestão de recursos naturais, diz que o país precisa de “políticas públicas pensadas em relação à diversidade e especificidade dos territórios”. Ou seja, a mesma política de sustentabilidade não pode ser aplicada da mesma forma no Norte e no Sul de Portugal;