Líderes da Transição

João Maciel, o líder do laboratório onde se experimenta o futuro da energia

Da robótica aos novos materiais sustentáveis, o diretor-geral da NEW – Centro de Investigação e Desenvolvimento tem a inovação como principal objetivo. Esta é uma das 20 personalidades portuguesas selecionadas pelo Expresso para integrar a lista daqueles que lideram a transição para um mundo mais verde. Acompanhe esta descoberta até dezembro com o projeto Líderes da Transição, do Expresso com apoio da EDP

Já lá vão mais de duas décadas a trabalhar no sector energético, num período em que a tecnologia e o conhecimento sobre as renováveis avançaram a grande velocidade. Mas é precisamente o desafio e a vontade de descobrir o que serão as tendências de amanhã que motivam João Maciel, diretor-geral da NEW – Centro de Investigação e Desenvolvimento do grupo EDP. Não é apenas uma sala onde se fazem algumas experiências sobre o futuro do sector, mas antes “uma fábrica de ideias” que reúne cerca de 55 investigadores de sete nacionalidades.

“Coisas que tenho na minha secretária neste momento incluem a utilização de robótica para simplificar a eficiência nos projetos de renováveis ou novas formas de armazenamento de energia utilizando materiais sustentáveis”, exemplifica. A inovação, sublinha, será essencial para que a sociedade, como um todo, consiga avançar nos objetivos de desenvolvimento sustentável, mas para que tenha sucesso precisa de um ambiente seguro onde falhar faz parte do dia a dia.

“Em 2030 vamos ter bastante eletrificação, tanto nos consumos elétricos como industriais. Naqueles que não for possível eletrificar, vamos usar gases renováveis que são produzidos a partir da energia que sobra em certos momentos, que depois é usada para descarbonizar a indústria”

Essa cultura de experimentação exige “uma infraestrutura que permita que rapidamente possamos falhar e passar à iteração seguinte”, porque “sabemos que isso faz parte do jogo da inovação”. Tem sido este espírito de explorador dos caminhos da disrupção que permitiu a João Maciel estar envolvido em importantes conquistas como o desenvolvimento do “eólico offshore flutuante”, projetos que não são apenas importantes para o percurso do grupo empresarial em que está inserido, mas que ajudam também a desenhar o futuro da energia.

Porém, a tecnologia de ponta, por muito cativante que possa ser para quem a investiga, tem igualmente de contribuir para a democratização das renováveis para que todos possam fazer parte da transição para um planeta mais verde. “A tecnologia e o seu custo, o facto de se ter tornado acessível é um fator de empoderamento. Há 20 anos, eram poucas as pessoas que podiam ter painéis fotovoltaicos no telhado porque custavam mais de dez vezes o que custam hoje”, recorda.

IDEIA MICRO | CRIAR MAIS COMUNIDADES DE ENERGIA

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É precisamente a tecnologia que permite hoje criar comunidades de energia por esse país fora, um conceito que faz lembrar os pequenos bairros em que todos os vizinhos se conhecem e partilham bens entre si. Neste caso, em vez daquele ramo de coentros, troca-se energia renovável. “Em nossa casa, durante o dia quando estamos no escritório, não estamos a consumir energia ou temos consumos marginais. Ao contrário, um pequeno negócio no nosso bairro, como uma padaria, produz alguns consumos durante o dia. Fazer a partilha de energia e a sua remuneração permitiria trazer bastante eficiência para o sistema”, detalha João Maciel.

Esta é a ideia que o líder da NEW gostaria de ver implementada em cada vez mais locais do país, de forma a tirar partido do maior número possível de telhados onde possam ser colocados painéis fotovoltaicos e democratizar a energia verde, de baixo custo e até com retorno financeiro para estes pequenos produtores.

IDEIA MACRO | SIMPLEX PARA A TRANSIÇÃO

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Contudo, existem “gargalos” que é preciso resolver para permitir que ideias como a deixada por João Maciel possam acelerar ao ritmo que a transição energética exige. “Há uma coisa que é essencial para a implementação de renováveis, que é um sistema regulatório simples e estável”, considera.

Por isso mesmo, acredita ser preciso criar “um simplex para a transição energética” que facilite “o desenvolvimento massivo de renováveis a várias escalas”, nomeadamente no que respeita ao licenciamento de centrais fotovoltaicas de maior e menor dimensão. Desburocratizar para avançar na direção de um mundo mais eletrificado, a baixo custo, é essencial, defende o especialista em inovação.

São académicos, empresários e ativistas com vontade de mudar o mundo para melhor, um passo de cada vez. O projeto Líderes da Transição, do Expresso com apoio da EDP, selecionou 20 personalidades portuguesas com percurso assinalável na jornada da sustentabilidade e vai partilhá-lo com os leitores até dezembro. Ao longo de 10 semanas, o Expresso publica as suas histórias, percursos e ambições para incentivar a transição para um futuro mais verde.