Líderes da Transição

Edifícios do futuro estão a ser desenhados pelas mãos de Catarina

Arquiteta na Openbook, Catarina Martins tem dedicado o seu percurso ao aprofundamento do conceito de sustentabilidade que aplica todos os dias. Esta é uma das 20 personalidades portuguesas selecionadas pelo Expresso para integrar a lista daqueles que lideram a transição para um mundo mais verde. Acompanhe esta descoberta até dezembro com o projeto Líderes da Transição, do Expresso com apoio da EDP

A arquitetura é muito mais do que desenhar espaços, é um exercício de planeamento que inclui procurar as melhores técnicas, os materiais mais sustentáveis e projetar uma construção com o menor impacto no ambiente. É, pelo menos, assim que Catarina Martins tem olhado para a sua missão como arquiteta, um trabalho que hoje desempenha na empresa Openbook. “Estudei muito o que quer dizer mesmo a palavra sustentável. O termo e o conceito surgiram em 1987 com o relatório O Nosso Futuro Comum (...) e esta definição está assente em três vértices: social, económico e ambiental”, assinala.

A conjugação destes três elementos é essencial para “perceber a globalidade” da palavra, mas sobretudo para conseguir aplicá-la ao mundo real no dia a dia de quem planeia novos espaços. “O arquiteto tem o know-how dos materiais e dos métodos construtivos, mas também noção de como desenhar o espaço, quer seja público, quer seja privado”, continua, enquanto explica que todas estas competências são importantes para desenhar comunidades mais inclusivas, felizes e sustentáveis.

“O cenário do amanhã, que se quer que seja sustentável, tem também que ser saudável, feliz e consciente. Tem que haver aqui uma grande promoção da comunidade em sociedade e que ela esteja cada vez mais ciente destas problemáticas”

Consciente da relevância da gestão de recursos urbanos, Catarina Martins anseia por um futuro próximo, já em 2030, “que promova cada vez mais energias renováveis, mas que acima de tudo se compreenda que o papel do arquiteto se faz no construir o cenário do amanhã”. É isso que a profissional tenta fazer em cada projeto que abraça, seja por via da reabilitação de edifícios que pareciam em fim de vida, seja pelo aconselhamento aos clientes para que tomem decisões com impacto positivo.

IDEIA MICRO | UTILIZAR MATERIAIS SUSTENTÁVEIS

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A influência exercida pelos ateliers é fundamental no incentivo à escolha de materiais que contribuam para reduzir a pegada ambiental de uma casa, de um prédio ou de um escritório, acredita a arquiteta. É preciso ter em conta se os recursos são “de origem mais local porque reduz o impacto no transporte”, mas também a forma como “são produzidos”, a sua toxicidade e até a sua eventual reciclagem.

Catarina Martins lembra ainda o surgimento de outros conceitos, como o da “sustentabilidade hedonista”, impulsionado por arquitetos como Bjarke Ingels, que “tem uma abordagem que se foca na vivência das pessoas através da sustentabilidade”. Um exemplo é como a promoção de ciclovias nas cidades “é muito benéfica para o ambiente, mas também para a psicologia da pessoa que usa a cidade”.

Tudo isto são, diz, questões que devem ser centrais na arquitetura e na sua capacidade de influenciar, a nível micro e macro, a construção de espaços mais neutros em carbono, assim como de contribuir para sociedades mais felizes.

IDEIA MACRO | REPENSAR O DESENHO DAS CIDADES

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Do ponto de vista mais alargado, Catarina Martins não tem dúvidas de que é preciso “repensar as cidades” e perceber “como é que a gestão de recursos pode contribuir para o trabalho no combate a isolamentos sociais, desigualdades ou incentivar o sentido comunitário”. Isso passa não apenas pelo desenho do espaço público, mas também pela aposta em redes de transportes eficazes que ofereçam melhor qualidade de vida aos cidadãos.

A arquiteta acredita que “o Estado já faz aqui algum papel com ajudas fiscais e outros incentivos” que ajudam à integração de premissas sustentáveis, nomeadamente por via da instalação de parques para bicicletas, painéis solares ou até a promoção da reabilitação urbana. “A reabilitação faz com que o impacto ambiental que é provocado por uma nova construção seja altamente reduzido”, destaca, enquanto pede que este trabalho continue a ser feito e aprofundado para, em conjunto, ser possível criar espaços que potenciem o alcance de metas ambientais.

São académicos, empresários e ativistas com vontade de mudar o mundo para melhor, um passo de cada vez. O projeto Líderes da Transição, do Expresso com apoio da EDP, selecionou 20 personalidades portuguesas com percurso assinalável na jornada da sustentabilidade e vai partilhá-lo com os leitores até dezembro. Ao longo de 10 semanas, o Expresso publica as suas histórias, percursos e ambições para incentivar a transição para um futuro mais verde.