Líderes da Transição

De promotor a construtor sustentável, Cardoso Botelho está a transformar o sector em Portugal

José Cardoso Botelho tem um portefólio de edifícios em que a sustentabilidade é a sua base fundacional, mas o seu objetivo é deixar um legado que orgulhe os filhos. Esta é uma das 20 personalidades portuguesas selecionadas pelo Expresso para integrar a lista daqueles que lideram a transição para um mundo mais verde. Acompanhe esta descoberta até dezembro com o projeto Líderes da Transição, do Expresso com apoio da EDP

Não será difícil encontrar construtores, promotores e especialistas em imobiliário que garantam que o futuro do sector está na sustentabilidade. E esse futuro, acredita José Botelho Cardoso, tem de começar a ser edificado hoje. É, aliás, isso que o cofundador e CEO da Vanguard Properties tem procurado fazer ao longo dos últimos oito anos através de um investimento comprometido e avultado em novas técnicas de construção, materiais com menos emissões de CO2 e na construção de um modelo de negócio inovador. “A indústria da construção, como sabemos, é responsável por cerca de 40% das emissões de CO2. Começámos a pensar o que poderíamos fazer para, de alguma forma, tornar os nossos produtos mais sustentáveis”, diz ao Expresso.

Licenciado em Gestão, detentor de um MBA em Gestão Internacional e várias pós-graduações, José Botelho Cardoso não é engenheiro nem arquiteto, mas foi no imobiliário que encontrou uma das suas paixões. Para dar corpo à sua visão sobre o que deve ser o futuro do sector, chamou à sua equipa o professor catedrático e investigador Manuel Collares-Pereira, que é hoje consultor científico para a área da sustentabilidade e que tem um longo currículo na área das energias renováveis.

No que respeita ao negócio, tem apostado na aquisição de empresas industriais especializadas em diferentes materiais, entre eles a madeira, uma matéria-prima que, sublinha, é o futuro da construção. E tem sido, de resto, uma das principais aliadas da Vanguard no desenho do empreendimento Terras da Comporta, no extremo sul da Península de Setúbal.

“Acredito que em 2030 estaremos numa situação muito melhor do que aquela em que estamos hoje, apesar das dificuldades que se vão colocar, obviamente, neste período de transição”

Numa entrevista recente ao Expresso, em setembro, o CEO da Vanguard Properties explicava que construir edifícios com menor pegada ambiental e eficientes do ponto de vista energético não deve ser uma escolha, mas uma inevitabilidade. Pelo menos para quem queira, a médio prazo, ter um retorno do investimento na construção. “Uma Google ou uma Amazon hoje têm requerimentos em termos de certificação muitíssimo elevados. Edifícios que não tiverem uma determinada performance, pura e simplesmente não são possíveis de alugar às melhores empresas por preço nenhum”, apontava. O mesmo acontecerá cada vez mais no mercado residencial, onde considera que “há ainda trabalho a fazer” para tornar as casas mais eficientes.

José Cardoso Botelho assume a missão de tornar os edifícios mais verdes, mas não esconde que, para lá do negócio e da contribuição para um mundo melhor, o legado que deixará à sua família é uma motivação importante. “Queremos deixar um legado para que daqui a muitos anos os nosso filhos e netos possam dizer que, de facto, deixámos uma coisa bem feita”, dizia ao Expresso, em setembro, a propósito de um evento sobre empresas familiares.

IDEIA MICRO | SENSIBILIZAR A POPULAÇÃO SOBRE AMBIENTE

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O ponto de partida para uma transição eficaz é, considera o empresário, ter uma população consciente sobre o que é negativo e positivo para o ambiente e para a sociedade. Mas para isso “é preciso formação e informação”. “Se não houver um alinhamento de interesse e as pessoas não perceberem o porquê das coisas, não são capazes de estar em linha com objetivos estabelecidos pelo governo”, assegura José Cardoso Botelho.

E exemplifica com questões concretas: se os cidadãos não compreenderem a importância de investir em “tornar as suas casas mais eficientes, confortáveis e sustentáveis”, não o farão. As pessoas têm de estar “convencidas”, mas “também têm de ter meios para o fazer” e aí, acredita o gestor, “o Estado, em conjunto com os bancos, pode criar soluções de financiamento” para permitir essas transformações.

IDEIA MACRO | INVESTIR NA REFLORESTAÇÃO

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Não é por acaso que José Cardoso Botelho tem apostado em novos materiais e novas técnicas de construção para os empreendimentos que lidera – além de acreditar no potencial de crescimento do negócio por essa via, não tem dúvidas de que é esse caminho que permitirá reduzir o impacto ambiental da construção. E vale a pena recordar que a União Europeia estipula que as emissões de CO2 provenientes dos edifícios, seja na construção ou na sua utilização, têm de ser reduzidas nas próximas décadas.

Do ponto de vista macro, o líder da Vanguard Properties sugere duas medidas “importantes”: a reflorestação do país e a promoção da indústria da construção sustentável. “A reflorestação já está a acontecer em muitos países europeus, nomeadamente no Norte da Europa, porque as árvores são uma forma excelente de sequestrar e armazenar o CO2”, explica.

Além disso, como a madeira é um recurso renovável, a reflorestação pode alimentar a industrialização da construção sustentável com recurso à madeira que “tem uma performance, do ponto de vista ambiental, muito superior às outras matérias-primas tradicionais”.

São académicos, empresários e ativistas com vontade de mudar o mundo para melhor, um passo de cada vez. O projeto Líderes da Transição, do Expresso com apoio da EDP, selecionou 20 personalidades portuguesas com percurso assinalável na jornada da sustentabilidade e vai partilhá-lo com os leitores até dezembro. Ao longo de 10 semanas, o Expresso publica as suas histórias, percursos e ambições para incentivar a transição para um futuro mais verde.