Nuno Brito Jorge não é o típico CEO de outros tempos. Assume-se como “um profundo crente na capacidade que as pessoas têm de mudar o mundo” e tem aplicado essa filosofia ao longo de toda a vida. Mas foi com a fundação da GoParity, em 2017, que o engenheiro ambiental e entusiasta da inovação conseguiu criar um projeto de empreendedorismo que permitisse que todos pudessem participar no sector financeiro e investir o seu dinheiro, por pouco que seja, em ideias com potencial para transformar o mundo. “Aquilo que me move é empoderar as pessoas, seja no sentido de as capacitar, seja no sentido de poderem utilizar o seu dinheiro para, em conjunto, criarem um mundo melhor”, diz ao Expresso.
A empresa que criou e que tem desenvolvido nos últimos seis anos já angariou milhões de euros em investimentos alocados à sustentabilidade, com uma perna em vários cantos do mundo. “Permitimos investimentos a partir de €5”, assinala, ainda que reconheça que a GoParity não é “a solução de todos os problemas”. “Somos um instrumento de investimento, mas que dá o poder de escolha quanto aos projetos que nós queremos que aconteça”, explica Nuno Brito Jorge.
“Sou um profundo crente na capacidade que as pessoas têm de mudar o mundo, ainda que seja o mundo à sua volta, quando se empenham por uma causa”
Ligado ao mundo da energia e da sustentabilidade há quase duas décadas, o empreendedor olha para as metas de 2030 a partir de uma perspetiva positiva. “Gostava de imaginar que em 2030 já temos aquilo a que chamo um mundo, que é um mundo com zero emissões, zero geração de resíduos”, afirma. Mas para isso será preciso que todos desempenhem o seu papel, diz, desde os consumidores às empresas, passando pelo Estado.
IDEIA MICRO | ESTILOS DE VIDA MAIS CONSCIENTES
Nuno Brito Jorge acredita que “o princípio da suficiência” é “uma ferramenta muito poderosa” ao serviço da sustentabilidade, embora admita que é “difícil de implementar”. Na prática, o que sugere é que cada pessoa avalie a forma como age enquanto consumidor e pondere, em cada compra e decisão, se de facto precisa de concretizar determinado consumo. “Somos capazes de olhar para dentro, em cada decisão que tomamos, e pensar se não temos já suficiente. Um dos grandes causadores dos problemas que enfrentamos como sociedade é o excesso de consumo”, reforça.
Estas escolhas aplicam-se a tudo nas nossas vidas, desde os produtos que compramos no supermercado aos eletrodomésticos que escolhemos para as nossas casas. Nuno recusa a ideia de que “uma vida mais sustentável é mais cara” e defende que já não é assim em muitos casos, mas diz também ser necessário dar ferramentas adequadas aos cidadãos para que possam, de forma simples e intuitiva, escolher os bens com menor impacto no ambiente e na sociedade. Informação é, garante, a palavra-chave para alcançar estilos de vida mais conscientes.
“Acredito que se o conseguirmos tornar visível [o impacto das escolhas] vamos conseguir uma indução gigante de mudança nos comportamentos dos consumidores para um comportamento muito mais sustentável”, afiança.
IDEIA MACRO | INCENTIVAR INVESTIMENTOS VERDES
Mais do que puxar a brasa à sua sardinha, Nuno Brito Jorge não tem dúvidas de que o Estado pode, e deve, dar incentivos a investimentos financeiros considerados verdes. E cita o que acontece na GoParity, onde qualquer pessoa pode investir em projetos com carácter sustentável que podem ter sucesso ou encontrar barreiras que impeçam o seu objetivo final: concretizar a ideia, devolver o financiamento aos investidores e fazê-lo com mais-valias sobre o dinheiro que apostaram. O risco é inerente a todos os investimentos, mas o Estado pode atuar para “mitigar o risco”.
Uma das sugestões deixadas pelo empreendedor é que os organismos públicos possam, no caso de investimentos que não corram bem, contabilizar as perdas em sede de IRS. “Ou seja, entram como um gasto no IRS dos cidadãos que decidiram apostar em projetos de sustentabilidade. Outras formas fáceis em que podemos pensar é o dos incentivos fiscais”, enumera. “Faz sentido existir um incentivo fiscal quando há um bem maior e coletivo”, remata.
São académicos, empresários e ativistas com vontade de mudar o mundo para melhor, um passo de cada vez. O projeto Líderes da Transição, do Expresso com apoio da EDP, selecionou 20 personalidades portuguesas com percurso assinalável na jornada da sustentabilidade e vai partilhá-lo com os leitores até dezembro. Ao longo de 10 semanas, o Expresso publica as suas histórias, percursos e ambições para incentivar a transição para um futuro mais verde.