É preciso conhecer para saber como atuar com eficácia. Esta é uma frase que se adequa bem a Maria José Roxo, professora catedrática na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, que tem dedicado a sua investigação aos temas da desertificação, catástrofes e recursos naturais. E mais do que estudar por gosto, quer fazer parte da mudança e contribuir com informação útil, científica, para apoiar a tomada de melhores decisões sobre o planeta. “Penso que aquilo que tem sido a minha missão é precisamente tentar informar as pessoas, o público em geral, mas sobretudo os decisores e os políticos sobre a importância da gestão racional e sustentável dos recursos naturais”, resume em entrevista ao Expresso.
Ao longo da carreira, a professora tem coordenado projetos de investigação nacionais e internacionais de grande importância, um trabalho com reconhecimento dos seus pares que já lhe valeu, em 2013, o prémio Dryland Champions das Nações Unidas. “Aquilo que me interessa é a relação entre o recurso solo, o recurso água e o recurso vegetação. A sua gestão racional será fundamental num processo de transição para o futuro”, sublinha.
“Quero pensar que em 2030 já vou ter alguns países a cumprir alguns acordos, apesar de saber que é difícil, ainda por cima com as guerras e com toda a instabilidade que o mundo está a viver”
Maria José Roxo, que é também membro da Comissão Nacional de Combate à Desertificação, acredita que “para as pessoas terem um papel mais ativo [na transição para um planeta mais sustentável] têm de estar muito bem informadas”. E é precisamente para isso que tem procurado contribuir ao longo dos anos.
IDEIA MICRO | AUMENTAR A MATÉRIA ORGÂNICA
Por considerar que todos temos um papel a desempenhar – a nível individual, empresarial e enquanto Estado -, a ideia micro que sugere à sociedade prende-se com a atividade agrícola. “Gostava de implementar que os agricultores conseguissem melhorar o teor de matéria orgânica. A matéria orgânica é todas as componentes em carbono – coisas que apodreceram ao sol, as folhas, os animaizinhos”, explica.
Esta matéria orgânica pode funcionar “como um íman” que consegue “agregar a areia, a argila e criar torrõezinhos”, que, por sua vez, deixam espaços vazios entre si. É através destas brechas que se infiltra a água e o ar no solo. Mas qual a vantagem? São duas: aumentar a produtividade das culturas e “sequestrar e armazenar carbono da atmosfera”.
A professora catedrática acrescenta que esse aumento da matéria orgânica não precisa de ser elevado, bastaria que os agricultores conseguissem acrescentar “2%, 3% ou 4%”. “Isto faz-se com a utilização de leguminosas e de culturas que proporcionem uma salvaguarda dos solos em relação à erosão”, detalha. E isto, garante, está acessível a todos aqueles que trabalham a terra e que podem ser, eles mesmo, agentes da mudança.
IDEIA MACRO | CONHECER OS RECURSOS NATURAIS
Ao nível do Estado, Maria José Roxo tem uma visão muito pragmática: para implementar medidas úteis e eficazes, é preciso que os decisores e políticos conheçam bem o território. “Têm de saber quais são os recursos naturais que têm, porque para gerir e ter boas ideias é preciso saber o que tenho”, aponta. Um exemplo é a água, esse bem escasso e cada vez mais valioso em tantas partes do mundo. “Para gerir muito bem os recursos hídricos, é evidente que o Estado tem de saber quais são os mananciais de água que temos e depois, obviamente, legislar em função da sua proteção”.
Mas considera que também as empresas têm uma responsabilidade a assumir e um papel a desempenhar nesta transição, nomeadamente por via da compensação dos danos que as suas atividades causam ao meio ambiente. “As empresas podiam ajudar a investigação científica a desenvolver ideias e projetos que ajudem na regeneração dos ecossistemas”, exemplifica.
São académicos, empresários e ativistas com vontade de mudar o mundo para melhor, um passo de cada vez. O projeto Líderes da Transição, do Expresso com apoio da EDP, selecionou 20 personalidades portuguesas com percurso assinalável na jornada da sustentabilidade e vai partilhá-lo com os leitores até dezembro. Ao longo de 10 semanas, o Expresso publica as suas histórias, percursos e ambições para incentivar a transição para um futuro mais verde.