Cerca de um quinto das emissões de dióxido de carbono (CO2) na União Europeia são da responsabilidade do sector dos transportes e, dentro dele, os veículos pesados estão entre os que mais contribuem para o resultado. É precisamente aqui que Álvaro Sousa, engenheiro de formação e cofundador da Keyou, quer atuar e ser um 'Líder da Transição'. “Tenho sido muito proativo no desenvolvimento de tecnologias e de empresas que possam efetivamente trazer esses benefícios”, explica o empreendedor.
Em 2015, juntou-se a Thomas Korn e Markus Shneider para criar a Keyou, uma empresa sediada na Alemanha que tem como objetivo revolucionar o sector dos transportes. Para isso, desenvolveram uma tecnologia baseada em hidrogénio que permite converter os motores a diesel de camiões para motores que funcionem com hidrogénio. A ideia é que seja possível às empresas adaptar as suas frotas, reduzir as emissões de CO2 e, em simultâneo, poupar dinheiro.
Ao Expresso, assume-se como “um otimista por natureza”, mas é cauteloso na forma como perspetiva o futuro. “Em 2030, imagino um mundo com mais problemas do que os que temos hoje, isto a avaliar pela forma como a Humanidade se tem desenvolvido”, afirma. Não tem dúvidas de que, no final desta década, a área da energia seja “bem mais desenvolvida e avançada”, assente em energias renováveis e maior capacidade de armazenamento da produção energética verde.
IDEIA MICRO | PLANTAR MAIS ÁRVORES
Como agente de mudança, Álvaro Sousa acredita que todos podem ter um papel nesta jornada da sustentabilidade. Desde logo, sugere que os cidadãos pensem ativamente nas “decisões que tomam enquanto consumidores” para influenciarem as escolhas das empresas.
Mas para garantir que todos têm um impacto direto, real e palpável na transformação do planeta, o engenheiro pede que as pessoas “plantem árvores, mas também que as mantenham saudáveis”. “É relativamente simples, só exige uma semente da planta e contribui para uma série de questões que são importantes hoje. A árvore capta o CO2, é uma das formas mais eficientes de captar o CO2”, detalha.
A par do sequestro de CO2, as árvores estimulam “a biodiversidade local”, “aumentam a qualidade do solo” e “permitem um ciclo de água muito mais sustentável e equilibrado”, concretiza o empreendedor.
IDEIA MACRO | ESTUDAR O CICLO DE VIDA DOS PRODUTOS
Álvaro Sousa encontra na forma como os governos estimulam a adoção de comportamentos mais sustentáveis espaço para melhorias, a começar pelos mecanismos de financiamento de medidas em prol do ambiente. “O que acontece hoje em dia é que, muitas vezes, os fundos públicos para apoiar a sustentabilidade nem sempre são aplicados da forma mais eficiente”, constata. E exemplifica com a mobilidade verde e os apoios para a aquisição de automóveis elétricos.
“O veículo é zero emissões e por isso é o que se apoia, mas não se analisa todo o ciclo de vida [desse produto]”, critica. Para mudar esta realidade, sugere que o poder político passe a ter em conta “a quantidade de energia usada na produção, durante o seu uso e no fim de vida”, de forma que seja possível fazer uma avaliação mais real do verdadeiro impacto no ambiente. Só assim, defende, será possível criar apoios públicos eficazes para o cumprimento das metas climáticas.
São académicos, empresários e ativistas com vontade de mudar o mundo para melhor, um passo de cada vez. O projeto Líderes da Transição, do Expresso com apoio da EDP, selecionou 20 personalidades portuguesas com percurso assinalável na jornada da sustentabilidade e vai partilhá-lo com os leitores até dezembro. Ao longo de 10 semanas, o Expresso publica as suas histórias, percursos e ambições para incentivar a transição para um futuro mais verde.