Líderes da Transição

Há mais de duas décadas a evangelizar para a sustentabilidade

Sofia Santos, responsável por esta área na Systemic, tem apoiado organizações nos processos de transição para uma atividade com menos impacto no ambiente. Esta é uma das 20 personalidades portuguesas selecionadas pelo Expresso para integrar a lista daqueles que lideram a transição para um mundo mais verde. Acompanhe esta descoberta até dezembro com o projeto Líderes da Transição, do Expresso com apoio da EDP

“Imagino o mundo em 2030 um bocado caótico. Não há dúvida de que vamos ter fortes impactos ambientais e que a temperatura vai subir”, começa por dizer Sofia Santos. Apesar do tom pessimista, a consultora de sustentabilidade na Systemic tem dedicado as últimas duas décadas de carreira a apoiar empresas públicas e privadas a perceber “como podem diminuir o seu impacto ambiental”.

Em entrevista ao Expresso, a especialista reconhece, porém, que a abertura das organizações para estes temas é hoje muito diferente do que na altura em que começou a trabalhar, mas diz ser preciso acelerar a transição. “A aceitação das empresas é muito superior ao que era há cinco anos”, aponta. E há boas razões para que toda a sociedade – consumidores, empresas e Estado – esteja mais atenta a estes desafios: “Estamos a viver o típico dilema do prisioneiro, em que nenhum de nós tem propriamente um estímulo para agir de forma proativa”, diz.

“O que faz de mim um agente de transformação? A vontade de ver as coisas mudarem e de fazer com que as pessoas vejam que o futuro é inevitável, a não ser que o mudemos”, explica

Sofia Santos relembra que a incapacidade de cumprir as metas ambientais definidas para 2030 terá como consequência “danos na economia, nas pessoas e na sociedade”. A pensar na urgência da ação, a consultora deixa duas sugestões que, acredita, podem ter impacto positivo nesta jornada rumo à neutralidade carbónica.

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Os últimos três anos têm sido marcados pela introdução de nova legislação que obriga as empresas – as maiores e quotadas – a cumprir requisitos ao nível do impacto ambiental das suas atividades. No caso dos bancos, por exemplo, há cada vez mais obrigações relacionadas com o financiamento concedido: tem de ser feita uma transição progressiva para o crédito a projetos com baixo risco ambiental, de forma a favorecer a sustentabilidade. “Para as pessoas, sugiro uma coisa muito simples, que é perguntarem ao seu banco o que faz em prol da sustentabilidade”, afirma, em referência à forma como é aplicado o dinheiro que cada cliente tem nas suas poupanças. “Quero que as minhas poupanças estejam a ajudar as empresas a ficar mais verdes? Ou será que estou confortável em saber que o meu dinheiro não está a ter esse impacto?”, indaga Sofia Santos.

A mesma lógica pode, e deve, ser aplicada a outras escolhas dos consumidores, seja na compra de uma peça de roupa com o menor impacto ambiental possível ou até de um chocolate que “respeite todas as pessoas ao longo da cadeia de valor”. “Isso dá-nos um poder enorme”, garante.

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Além do contributo individual que cada um pode dar, também os Estados devem contribuir para o desígnio comum da neutralidade carbónica. A especialista defende, por isso, a introdução de uma cadeira de sustentabilidade obrigatória em todos os cursos do ensino superior, de forma a garantir que todos os futuros profissionais têm consciência “dos impactos económicos e financeiros” das suas escolhas.

São pequenas medidas e escolhas que, pouco a pouco, vão transformando o mundo para um local mais verde e socialmente mais justo. “O futuro é inevitável, a não ser que o mudemos”, remata.

São académicos, empresários e ativistas com vontade de mudar o mundo para melhor, um passo de cada vez. O projeto Líderes da Transição, do Expresso com apoio da EDP, selecionou 20 personalidades portuguesas com percurso assinalável na jornada da sustentabilidade e vai partilhá-lo com os leitores até dezembro. Ao longo de 10 semanas, o Expresso publica as suas histórias, percursos e ambições para incentivar a transição para um futuro mais verde.