Um mundo “com muitos painéis solares, muitos veículos elétricos" nas estradas e mais formas de armazenar a energia verde produzida. É esta a visão que Carla Gonçalves, investigadora no INESC-TEC, tem para 2030, o ano em que já muitos das metas intermédias para a neutralidade carbónica deverão estar cumpridas. Será este um cenário otimista ou alinhado com a realidade? A resposta é difícil de dar hoje, no final de 2023, mas a verdade é que vindo esta previsão de alguém que tem dedicado a vida a criar modelos matemáticos preditivos, a conjetura ganha outra credibilidade.
Este é, de facto, o trabalho que Carla Gonçalves tem feito neste instituto de investigação científica e desenvolvimento tecnológico: construir equações que permitam prever a quantidade de energia que será possível produzir em cada momento. “Considero-me uma líder de transição porque tenho contribuído para a integração de energias renováveis através do desenvolvimento de modelos que permitem melhorar a previsão das energias renováveis”, explica, referindo-se à origem solar e eólica.
“Imagino o ano de 2030 com muitos painéis solares e muitos veículos elétricos nas nossas vias. Imagino também que haja maior armazenamento da energia renovável que produzimos e não consumimos”, antecipa
Tendo em conta que estas fontes sustentáveis dependem, diretamente, das condições meteorológicas, o sistema desenvolvido pelo INESC-TEC tem como objetivo otimizar a produção com base no estado do tempo.
IDEIA MICRO | ADAPTAR O CONSUMO ENERGÉTICO
A transformação do planeta está, acredita, na mão de todos e é possível fazê-lo com pequenos gestos que, no seu conjunto, marquem a diferença. A matemática sugere, por isso, que os cidadãos procurem instalar painéis solares nas suas casas, mas também que alterem a forma como consomem energia. “Podemos não reduzir o consumo, mas movê-lo para horas em que a produção renovável esteja em alta”, afirma. Por exemplo, se às 12h de um dia com céu limpo, em pleno verão, os painéis fotovoltaicos estão a gerar grandes quantidades de energia elétrica, então essa é uma boa altura para carregar um veículo elétrico e utilizar a máquina de lavar roupa.
Carla Gonçalves reconhece que são precisos “incentivos financeiros” para que as pessoas possam investir em meios de produção de energia verde e aponta o Fundo Ambiental como uma das opções a considerar. Através do programa governamental, é possível “tornar os edifícios mais eficientes”, proceder à “substituição de janelas” e instalar painéis solares ou bombas de calor. “É um bom incentivo. No entanto, requer que as pessoas tenham algum dinheiro para fazer o investimento inicial”, diz.
IDEIA MACRO | PARTILHA DE DADOS
O princípio sugerido pela investigadora é o mesmo que aplica à ideia macro que gostaria de ver aplicada de forma generalizada: a partilha de dados energéticos entre empresas, mas também entre consumidores e operadores do sector. A troca de informações aconteceria de forma automática, a partir de sensores instalados em parques solares ou eólicos que permitem aferir as condições meteorológicas daquele espaço geográfico e a sua relação com o aumento ou a diminuição da produção. O objetivo principal deste projeto, que o INESC TEC tem procurado desenvolver, é otimizar a geração de energia.
O desafio, refere, “é que estamos a falar de empresas que competem no mesmo mercado elétrico e não estão disponíveis a partilhar os seus dados”, motivo pelo qual Carla Gonçalves acredita ser preciso implementar incentivos financeiros. “A previsão colaborativa pode beneficiar as previsões e isso leva a melhores decisões”, sublinha.
São académicos, empresários e ativistas com vontade de mudar o mundo para melhor, um passo de cada vez. O projeto Líderes da Transição, do Expresso com apoio da EDP, selecionou 20 personalidades portuguesas com percurso assinalável na jornada da sustentabilidade e vai partilhá-lo com os leitores até dezembro. Ao longo de 10 semanas, o Expresso publica as suas histórias, percursos e ambições para incentivar a transição para um futuro mais verde.