Líderes da Transição

Empresários com coração e um Estado interventivo. A visão de um CEO para o mundo

José Teixeira é presidente do Grupo DST, posição que tem usado ao longo dos anos para deixar uma marca positiva na sociedade. Esta é uma das 20 personalidades portuguesas selecionadas pelo Expresso para integrar a lista daqueles que lideram a transição para um mundo mais verde. Acompanhe esta descoberta ao longo das próximas dez semanas com o projeto Líderes da Transição, do Expresso com apoio da EDP

Passar das palavras à ação. É este o lema de José Teixeira, presidente do Grupo DST, que ao longo dos anos tem contribuído para melhorar o projeto de sociedade em Portugal – nas questões sociais, culturais e ambientais. Mais do que se ver como um dos Líderes de Transição, o empresário prefere pensar que está apenas “muito alinhado com a ordem natural das coisas”. E quais são essas “coisas”? Cumprir os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) das Nações Unidas, colocar em prática o Acordo de Paris e, sobretudo, agir.

Dedicado à construção civil, às infraestruturas e à área da água, ambiente e energia, o Grupo DST, com sede em Braga, tem sido por diversas vezes apontado como um farol empresarial para a importância da responsabilidade social. Internamente, através da melhoria das condições de trabalho das suas equipas, com forte aposta em formação, integração e na implementação de medidas de valorização dos colaboradores. A nível externo, com atuação permanente – e muitas vezes discreta – no mecenato cultural, na promoção de campanhas ambientais e no apoio a situações relacionadas com pobreza.

Embora assuma um total alinhamento com os objetivos que o mundo tem de cumprir nas próximas décadas na jornada da sustentabilidade, José Teixeira não se mostra confiante sobre o cumprimento das metas definidas. “As metas que temos, do ponto de vista da sustentabilidade, nomeadamente a redução da emissão de gases com efeito de estufa que até 2030 é de 45%... Não vamos atingir isso”, lamenta. “2030 é daqui a seis anos e pouco, está aqui ao pé, isto corre com uma velocidade do diabo”, acrescenta.

“Às vezes tem de haver Estado. É por isso que eu – persona antes de empresário – digo que isto sem Estado não funciona, que isto sem regulação não funciona”, aponta José Teixeira

É por isso que defende que o Estado deve ter um papel regulador, de forma a forçar a mudança e a adoção de medidas responsáveis nas empresas e na sociedade. E exemplifica com uma das recomendações acordadas na Cimeira Social do Porto, em 2021, para a redução de 15 milhões de pessoas em risco de pobreza, entre as quais cinco milhões de crianças. “Isto tem de bater no coração dos empresários, isto diz-me respeito”, sublinha. O presidente do Grupo DST acredita que “se o Estado não tivesse dito [aos empresários] “vocês têm de empregar a população deficiente, os empresários não empregavam. Mas se vier a regulação, os empresários empregam e não se passa nada”.

IDEIA MICRO | ELIMINAR VIAGENS CURTAS DE AVIÃO

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José Teixeira rejeita a ideia de que todas as medidas com impacto no ambiente e na sociedade têm de ser complicadas e difíceis. Pelo contrário, aponta uma ideia micro que todos podem implementar nas suas vidas: a redução das viagens curtas em avião. “Não façam viagens [curtas] de avião. Isso resolve o problema da pegada ecológica”, afiança.

E porque, mais uma vez, as palavras têm de dar lugar à ação, o grupo que lidera já aplica esta filosofia internamente. Para isso, foi criada uma plataforma de partilha de viagens entre colegas com o mesmo destino e que introduz incentivos concretos para motivar essa escolha mais ecológica. “Os nossos trabalhadores recebem até 60% da economia que nós obtemos por via de partilharem viagens com colegas”, elenca.

As empresas podem – e devem, na sua perspetiva – seguir estratégias semelhantes, mas também os cidadãos, a nível individual, podem recorrer a sites e aplicações móveis para viajar com vizinhos ou amigos.

IDEIA MACRO | ERRADICAR A POBREZA

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A Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável proposta pelas Nações Unidas, em vigor desde 2016, definiu 17 ODS que convocam todo o mundo para a resolução – ou mitigação – de vários problemas sociais e ambientais. Um deles, o primeiro de todos, é o da erradicação da pobreza. “Não é reduzir, é fazer com a pobreza o que se fez com a escravatura: eliminar”, reforça o empresário.

Sem surpresa, José Teixeira volta a distribuir responsabilidades entre as empresas e o Estado. “Cada um tem o seu papel, mas no papel das empresas o que me cabe dizer é que temos de aumentar os salários dos trabalhadores”, apela. E explica que, para isso ser possível, é preciso “aumentar o valor no que fazemos”, uma equação que implica apostar em “mais ciência”, na formação contínua das equipas e no estabelecimento de um compromisso sério dos gestores para com a sociedade. Ainda que este que é um dos 20 Líderes de Transição mostre reticências sobre o cumprimento dos prazos estabelecidos, acredita que é possível erradicar a pobreza em duas décadas. Do seu lado, garante, vai continuar a contribuir para o bem comum.

São académicos, empresários e ativistas com vontade de mudar o mundo para melhor, um passo de cada vez. O projeto Líderes da Transição, do Expresso com apoio da EDP, selecionou 20 personalidades portuguesas com percurso assinalável na jornada da sustentabilidade e vai partilhá-lo com os leitores até dezembro. Ao longo de 10 semanas, o Expresso publica as suas histórias, percursos e ambições para incentivar a transição para um futuro mais verde.