Trabalho

PCP diz que reforma “Trabalho XXI” foi feita “à moda do século XIX”

Secretário-geral do PCP diz que o Governo escolheu um título provocatório para o pacote da reforma laboral, que, longe de ser do século XXI, é “à moda dos direitos de trabalho do século XIX”. Paulo Raimundo acusa do PS de querer dar uma mão ao Governo quando sugere que o tema seja tratado à margem da discussão do Orçamento do Estado

Paulo Raimundo em campanha em Matosinhos
JOSÉ COELHO/Lusa

O secretário-geral do PCP afirmou esta quarta-feira que as alterações à lei laboral, intituladas de "Trabalho XXI", foram feitas "à moda do século XIX", e acusou o PS de tentar justificar a sua "participação ativa" no orçamento.

"Precisamos da vida dos trabalhadores a avançar, e precisamos de um país a avançar, e com este pacote laboral é só o retrocesso. Um pacote laboral que se intitula, de forma um bocadinho provocatória, de 'Trabalho XXI', mas que no fundo é 'Trabalho XXI' à moda dos direitos de trabalho do século XIX", acusou Paulo Raimundo.

O secretário-geral comunista falava à agência Lusa à margem de um encontro com a CGTP-IN, na sede desta confederação sindical, em Lisboa, após ter sido questionado sobre as declarações do líder do PS, que defendeu hoje que o próximo Orçamento do Estado não deve refletir alterações à lei laboral, afetar o SNS nem a Segurança Social, considerando esse o "ponto de partida" para o diálogo com o Governo.

"Convenhamos que essa afirmação de que o pacote laboral não pode estar no Orçamento é uma afirmação um bocadinho coxa, no mínimo, porque nenhum pacote laboral está no âmbito da discussão do Orçamento do Estado, portanto isso talvez seja uma forma que o PS está a encontrar para justificar a sua participação ativa na discussão do Orçamento, que não serve ao país", acusou.

Raimundo desvalorizou o facto de o PCP não ter sido convocado para uma reunião em São Bento, residência oficial do primeiro-ministro, sobre a proposta orçamental à semelhança de Chega, PS e IL, afirmando que não necessita de um encontro "para perceber o que é que o Governo quer".

Na ótica do PCP, o executivo pretende "desmantelar o Serviço Nacional de Saúde, continuar a atacar os serviços públicos, continuar a transferir recursos públicos para as mãos dos grupos económicos, nomeadamente com a descida do IRC".

"O Governo quer uma política aos serviços dos grupos económicos, contra a vontade, contra as necessidades da maioria. E quem se alinhar com este objetivo vai ter de responder perante o país sobre as suas opções", advertiu.

Paulo Raimundo voltou a considerar "curiosas" as "cotoveladas entre PS e Chega para ver quem é o melhor parceiro para discutir com o Governo um orçamento que não serve ao país".

O líder comunista insistiu que o anteprojeto do Governo representa “ uma ofensiva brutal aos trabalhadores” e mostrou-se convicto de que, apesar de o executivo estar 2muito apressado”, os trabalhadores “vão derrotar este pacote laboral”.

“O país não avança com mais precariedade, o país não avança com mais pressão sobre os salários, o país não avança com mais desregulação dos horários para juntar àquela desregulação brutal que já existe, o país avança com mais direitos”, sublinhou, lembrando que a CGTP-IN convocou uma Jornada Nacional de Luta contra o pacote laboral, marcada para 20 de setembro, com manifestações em Lisboa e no Porto.