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A contrarreforma laboral pode unir os sindicatos? Carvalho da Silva e Torres Couto, históricos sindicalistas, respondem a Daniel Oliveira

Daniel Oliveira recebe Carvalho da Silva e Torres Couto, duas figuras históricas do sindicalismo português, que se reencontram para discutir a chamada contrarreforma laboral. Desde o início da conversa, ambos sublinham a gravidade das alterações propostas pelo governo, que mexem em mais de uma centena de artigos da lei laboral e representam, segundo eles, um claro retrocesso nos direitos dos trabalhadores. O ponto de partida é o apelo à unidade das centrais sindicais, algo que os dois consideram indispensável para travar as mudanças em curso

Nuno Fox

Carvalho da Silva e Torres Couto destacam que, em vez de se reverterem as medidas impostas pela troika, o governo avança ainda mais no enfraquecimento da contratação coletiva, na facilitação dos despedimentos e no aumento da precariedade. Para eles, este processo não é um simples ajustamento, mas uma rutura estrutural, que compromete conquistas fundamentais do mundo do trabalho em Portugal. Ao longo da entrevista, insistem que o ataque à vida familiar e à estabilidade laboral não pode ser visto como detalhe negocial, mas sim como parte central de uma ofensiva contra os trabalhadores.

Nuno Fox

Os dois antigos líderes sindicais também refletem sobre a capacidade atual das centrais em mobilizar a sociedade. Admitem que a CGTP e a UGT já não têm a força de outros tempos, mas defendem que o contexto exige coordenação e unidade. Recordam o seu próprio percurso, marcado por alianças e divergências, como na greve geral de 1988, mas sublinham que hoje se impõe ultrapassar divisões. Só uma frente comum, afirmam, pode criar condições reais para enfrentar um governo apoiado por dois terços de deputados de direita e disposto a usar esse poder para remodelar profundamente as relações laborais.

Nuno Fox

Por fim, Carvalho da Silva e Torres Couto abordam as mudanças estruturais no mundo do trabalho, incluindo a “uberização” das relações laborais e o enfraquecimento da negociação coletiva. Consideram que estas transformações não são inevitáveis, mas sim opções políticas e empresariais, que privilegiam a redução de custos em detrimento da dignidade e estabilidade dos trabalhadores. No fecho do episódio, voltam ao ponto inicial: a urgência da unidade sindical. Mesmo num momento em que as taxas de sindicalização estão em mínimos históricos, acreditam que a gravidade do ataque pode ser a oportunidade para uma nova aproximação entre CGTP e UGT.

Nuno Fox

É mais que uma entrevista, é menos que um debate. É uma conversa com contraditório em que, no fim, é mesmo a opinião do convidado que interessa. Quase sempre sobre política, às vezes sobre coisas realmente interessantes. Um projeto jornalístico de Daniel Oliveira e João Martins. Imagem gráfica de Vera Tavares com Tiago Pereira Santos e música de Mário Laginha. Subscreva (no Spotify, Apple e Google) e oiça mais episódios: