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Dona de aeroportos Aena acusa Ryanair de usar "mentiras" para justificar abandono de voos em Espanha

Presidente da Aena afirma que companhia de O´Leary está a usá-la como bode expiatório para evitar o desagrado dos clientes e os danos reputacionais causados pelo suspensão de voos. Ryanair alega que abandona rotas por causa do aumento das taxas aeroportuárias que apelida de “excessivas”

Michael O'Leary, CEO da Ryanair, durante conferência de imprensa no Hotel Jupiter, em Lisboa
ANTONIO PEDRO FERREIRA

A Aena, a gigante operadora aeroportuária espanhola, acusou, em entrevista ao Financial Times, o presidente executivo da Ryanair, Michael O'Leary, de usá-la como bode expiatório para evitar o protesto e a ira dos passageiros devido aos cancelamentos de voos previstos pela companhia aérea irlandesa para Espanha.

A Aena subiu as taxas aeroportuárias em 6,5%, um aumento do valor médio de 0,68 euros por passageiro, e o presidente da Ryanair assegura que foi obrigada a cortar dois milhões de assentos em voos para Espanha por causa dos preços, que classifica como "tarifas excessivas". O'Leary diz que pode não ficar por aí e ameaça com o corte de mais um milhão de assentos no próximo verão.

Maurici Lucena, presidente e diretor executivo da Aena, acusa O'Leary de "mentir continuamente" e de ocultar a verdadeira razão para os cortes nos voos. "O que realmente me incomoda é que não estão a dizer a verdade", afirma Lucena, ao Financial Times. "Não tem nada a ver com as taxas da Aena. A razão pela qual eles mentem é que não querem enfrentar o custo político e de reputação de abandonar alguns aeroportos regionais e, em alguns casos, até causar perdas de empregos quando fecham uma base. Essa é a verdadeira questão subjacente".

Sair para ganhar em rotas mais rentáveis

O presidente da Aena assegura ainda ao Financial Times que o objetivo da Ryanair é transferir os aviões para rotas fora de Espanha, onde poderá ganhar mais dinheiro, não só através da cobrança de preços mais elevados pelos bilhetes como da obtenção de financiamento público. isto porque é comum as entidades de turismo e as autarquias pagarem à Ryanair para voar para certos destinos, ao abrigo da promoção de rotas.

Lucena admitiu ainda que a Ryanair, que tem sido penalizada pelo atraso da entrega de aviões da Boeing, está sob pressão para transferir aeronaves para outros aeroportos para maximizar a rentabilidade.

A Ryanair é a maior companhia aérea da Espanha em número de passageiros, e o país é o seu segundo maior mercado em receita, depois da Itália. Em Portugal, a companhia irlandesa é a maior no aeroporto do Porto e em Faro.

A companhia tem admitido que não realizará voos de inverno para alguns aeroportos espanhóis, como é caso de Santiago de Compostela. Outros aeroportos onde planeia reduzir voos são Vigo, Jerez e Tenerife.

O´Leary tem sido muito crítico também em relação às taxas aeroportuárias aplicadas pela ANA em Portugal. Em fevereiro apelidava de "aldrabice" e de "ilegal" a ideia de que a concessionária dos aeroportos portugueses pudesse subir as taxas em Lisboa para subsidiar a construção do novo aeroporto de Lisboa, que irá ser construído no Campo de Tiro de Alcochete.