Trabalho

Estrangeiros representam mais de um terço dos trabalhadores em dez concelhos de Portugal

Há municípios em que o número de trabalhadores estrangeiros ultrapassa o número de portugueses. Alentejo e Algarve são os casos mais visíveis. Cinfães destaca-se no norte do país

TIAGO MIRANDA

O número de trabalhadores estrangeiros por conta de outrem em Portugal aumentou quase nove vezes na última década para perto de meio milhão, em 2023. Em termos globais, representam 13,4% do número total, mas há dez concelhos, a maioria no sul do país, onde a sua presença equivale a mais de um terço. São eles Odemira, Ferreira do Alentejo, Cinfães, Almeirim, Albufeira, Aljezur, Odivelas, Vila do Bispo, Tavira e Loulé.

Os dados são do Banco de Portugal, tendo em conta a base de dados da Segurança Social, mostram que o grande destaque vai para Odemira, onde o peso da comunidade estrangeira atingiu os 76,1% no ano passado. Em Ferreira do Alentejo, a percentagem é de 48,9% e a completar o pódio está Cinfães - o único município do norte do país aqui representado – com 37,4%. (ver mapa)

“O peso dos trabalhadores estrangeiros no total de trabalhadores por conta de outrem é elevado em vários concelhos com significativa atividade agrícola, sobretudo da região Sul do país”, pode ler-se no relatório apresentado esta segunda-feira.

Grande maioria de trabalhadores em Odemira são estrangeiros

Peso dos estrangeiros por conta de outrem, por município

Os maiores aumentos de estrangeiros no mercado de trabalho em Portugal deram-se em duas fases: entre 2018/19 e entre 2022/23, tendo abrandado no período pandémico. No último ano, mais de 22% das empresas portuguesas tinha empregados imigrantes, comparando com os 7,9% registados em 2014.

E é no setor agrícola e das pescas que têm mais peso: quatro em cada dez trabalhadores tinha nacionalidade estrangeira em Portugal, o dobro do peso que tinham em 2019, antes da pandemia. Seguem-se o alojamento e restauração (31,1%), atividades administrativas (28,1%) e construção (23,2%).

A distribuição dos trabalhadores estrangeiros por nacionalidade em cada setor mostra uma prevalência dos trabalhadores brasileiros em todos os setores, exceto na agricultura e pesca. Aqui são sobretudo indianos, nepaleses e bengalis.

Brasileiros e homens destacam-se

Se olharmos para a nacionalidade de cada um destes trabalhadores oriundos de outros países, os brasileiros destacam-se, uma vez que correspondem a quase metade. No ano passado, o Banco de Portugal diz que eram mais de 209 mil registados na Segurança Social, o que equivale a 42,3% do total. A grande vaga de brasileiros a vir para Portugal deu-se sobretudo nos últimos dois anos (2022 e 2023), uma vez que as taxas de crescimento rondaram os 50% face aos anos transatos.

Depois, seguem-se outras quatro nacionalidades: indianos (41 mil), nepaleses (26,9 mil), cabo-verdianos (22,7 mil) e bengalis (18,8 mil). No seu conjunto, estas quatro nacionalidades representam 22,1% do total de trabalhadores por conta de outrem com nacionalidade estrangeira em 2023.

A idade mediana dos trabalhadores com nacionalidade estrangeira foi de 33 anos em 2023, o que compara com 42 anos para os trabalhadores com nacionalidade portuguesa, sendo que os trabalhadores indianos são os que têm uma idade mais baixa (mediana de 30 anos).

No ano passado, os homens representaram a grande fatia destes trabalhadores que chegam de outros países (63,3%), sendo que a diferença de géneros é muito díspar de nacionalidade para nacionalidade. No caso dos cabo-verdianos, as mulheres foram quase metade (46,4%), enquanto as bengalis e as indianas foram apenas 2,6% e 7,5%, respetivamente.

Estrangeiros ganham menos, mas são mais qualificados

O Banco de Portugal destaca ainda a diferença salarial entre os estrangeiros e os portugueses no ano passado e por faixas etárias. Os estrangeiros com menos de 35 anos levaram para casa, em média, pouco mais do que o ordenado mínimo (769 euros vs 760 euros do salário mínimo nacional) e menos 133 euros do que os portugueses com a mesma idade. Já os trabalhadores não portugueses com mais de 35 anos auferiram 781 euros, menos 164 euros do que os nacionais.

Entre setores, a diferença foi também visível. Todos os imigrantes registados na Segurança Social no ano passado receberam menos, em média, do que os portugueses em praticamente todos os setores, com exceção das atividades de informação e comunicação.

Apesar disso, os números mostram que os imigrantes registados em 2021 tinham mais qualificações do que os portugueses, “embora a diferença se tenha atenuado na última década”, destaca o supervisor.

No caso da população de nacionalidade portuguesa, o peso dos empregados entre os 20 e os 64 anos com ensino secundário ou superior aumentou de 44,7% em 2011 para 60,5% em 2021. O peso destas qualificações também aumentou na população estrangeira, passando de 53,1% em 2011 para 67,1% em 2021.

“A distribuição das qualificações académicas nos trabalhadores estrangeiros é relativamente estável entre escalões etários. Em contraste, entre os nacionais, observa-se uma maior qualificação dos jovens empregados face aos mais velhos. Os trabalhadores portugueses mais jovens são mais qualificados do que os estrangeiros, mas os portugueses mais velhos são menos qualificados”, refere.

Entre 2019 e 2023, o número de trabalhadores por conta de outrem subiu 13% em Portugal, sendo que mais de nove pontos percentuais desta subida diz respeito à vinda de trabalhadores estrangeiros. Significa, portanto, que 71% desta subida total de trabalhadores por conta de outrem em Portugal, neste período, devem-se à emigração.

Considerando o conjunto do período 2014 a 2023, o número de indivíduos de nacionalidade estrangeira que estiveram registados como trabalhadores por conta de outrem em algum momento, e durante pelo menos um mês, ascende a cerca de um milhão.