Energia

EDP eleva a sua capacidade solar em Portugal e acredita que irá “trabalhar bem” com qualquer Governo

A EDP Renováveis já concluiu a central solar da Cerca, que se tornou a sua maior central solar na Europa, elevando para 500 megawatts a potência fotovoltaica do grupo em Portugal

Central solar da Cerca, da EDP.
D.R.

“Temos conseguido construir soluções independentemente da cor política. Com qualquer Governo vamos trabalhar bem”, afirmou esta segunda-feira Duarte Bello, administrador da EDP Renováveis, durante uma visita com a comunicação social à central solar da Cerca, nos concelhos de Alenquer e Azambuja. Com uma potência superior a 200 megawatts (MW), trata-se da maior central fotovoltaica do grupo EDP na Europa.

O gestor desvalorizou, assim, a incerteza política que existe no país, na sequência das eleições legislativas de 10 de março, e a possibilidade de um Governo liderado pelo PSD vir a ter uma abordagem menos favorável às energias renováveis.

O projeto, que ocupa 200 hectares, nasceu do leilão solar realizado em 2019 pelo Governo português, no qual a EDP assegurou um só lote, para uma potência de injeção na rede elétrica de cerca de 140 MW, capacidade que a empresa entretanto ampliou para 202 MW ao abrigo dos regimes legais de repotenciação e reforço de potência de projetos de energias limpas.

De acordo com a empresa, com a central da Cerca, cuja primeira fase começou a injetar eletricidade na rede ainda no final do ano passado, a EDP eleva para 500 MW a sua capacidade solar total em Portugal. O projeto tem uma produção anual estimada de 330 gigawatt hora (GWh), equivalente a quase 0,7% do consumo de eletricidade do país.

A EDP Renováveis tem hoje em operação 4,3 gigawatts (GW) de capacidade solar, incluindo algumas centrais de larga escala, como a de Pereira Barreto (203 MW, no Brasil), Los Cuervos (200 MW, México) e Xuan Thien (199 MW, Vietname).

Na apresentação da central da Cerca à imprensa, Duarte Bello estimou que este ano a EDP Renováveis conseguirá atingir os 600 MW em Portugal, admitindo que “nos próximos três ou quatro anos” poderá chegar aos 1000 MW.

Questionado sobre o impacto das centrais solares de larga escala na paisagem e na biodiversidade, o administrador da EDP Renováveis sublinhou que no caso da Cerca “a escolha dos terrenos foi pensada para ter o mínimo impacto ambiental”, mas o gestor lembrou que “o impacto existe”. “Cumprimos escrupulosamente o que nos é exigido”, afirmou Duarte Bello, notando que uma das medidas adotadas pela empresa foi a plantação de 9 mil árvores.

Duarte Bello também reconheceu que os ajustes tarifários de que o projeto beneficiou, ao abrigo da legislação aprovada pelo Governo para incentivar os promotores dos projetos dos leilões a antecipar a sua entrada em operação, ajudaram a equilibrar os termos económicos do projeto. Recorde-se que a EDP Renováveis acordou receber neste projeto uma remuneração de cerca de 20 euros por megawatt hora (MWh) durante 15 anos, menos de metade da base de licitação do leilão de 2019. O montante é atualizado pela inflação, mas aos promotores também foi concedida a possibilidade de explorarem as centrais dos leilões em regime experimental durante alguns meses, vendendo a eletricidade ao preço do mercado (e não pela tarifa do leilão).

O gestor admite que a forma como o projeto foi estruturado permite ao grupo EDP garantir a rentabilidade deste investimento (cujo montante não quis detalhar), mas também dá margem à elétrica para ser competitiva do lado da comercialização de energia ao cliente final.

A central da Cerca, com 300 mil painéis, chegou a empregar 350 pessoas durante a construção. O parque fotovoltaico arranca, para já, sem capacidade de armazenamento com baterias, ao contrário de outros projetos solares de grande escala que estão a ser desenvolvidos no país.