Energia

Ørsted avança contra Trump em tribunal para salvar projeto eólico offshore

Também a francesa Engie e a portuguesa EDP enfrentam o risco de o Governo Trump revogar as licenças do parque eólico SouthCoast Wind, na costa do Estado do Massachusetts

Parque eólico ‘offshore’ entre a Dinamarca, Suécia e Alemanha. Foto: Getty Images

A gigante dinamarquesa de energias renováveis Ørsted avançou com uma ação judicial contra a Administração do presidente americano Donald Trump, para poder continuar os trabalhos de construção de um projeto eólico offshore que está quase concluído, avançou o Financial Times esta quinta-feira. O parque Revolution Wind representa um investimento de 1,3 mil milhões de euros e deverá gerar eletricidade suficiente para abastecer 350 mil lares no nordeste dos Estados Unidos. Está já 80% construído, com 45 das 65 turbinas instaladas, com início da operação previsto para o segundo semestre de 2026.

Esta sexta-feira, 5 de setembro, os acionistas da empresa vão votar um aumento de capital equivalente a 8 mil milhões de euros com vista à conclusão de um outro projeto no país - o Sunrise Wind, que também pode enfrentar uma paragem forçada -, com o Estado dinamarquês a subscrever 50,1% e o banco Morgan Stanley a garantir o restante.

Depois da ordem de Trump para parar as obras, no mês passado - uma decisão que a empresa classifica como "arbitrária e caprichosa" -, a Ørsted afundou em bolsa, com as ações a cair já 38% este ano. O parque eólico offshore da dinamarquesa foi apenas um dos visados pelas ordens de Trump para interrupção de obras em curso, com o presidente a descrever os projetos de energia do vento no mar como o "golpe do século".

A entrada do processo da Ørsted em tribunal, esta quinta-feira, teve lugar na véspera da reunião de emergência dos acionistas da energética em Copenhaga marcada para esta sexta-feira com o objetivo de aprovar um aumento de capital no valor de 8,1 mil milhões de euros para fortalecer as contas da empresa, gravemente prejudicadas pelos repetidos ataques do governo Trump ao sector.

O estado dinamarquês e a empresa norueguesa Equinor, os dois maiores acionistas da Ørsted, com participações de 50% e 10%, respetivamente, apoiaram este aumento de capital, assim como o fundo petrolífero da Noruega, que detém 3%. A própria Equinor processou o governo Trump por causa de uma outra ordem de paralisação do seu projeto Empire Wind. No entanro, a empresa desistiu da ação judicial depois dos EUA suspenderem a ordem em virtude das boas relações diplomáticas entre Washington e a Noruega.

No entanto o mesmo não se passa com a Dinamarca. O país está num impasse diplomático com os EUA devido à insistência de Trump em obter controlo sobre o território da Groenlândia, que neste momento está nas mãos do Governo de Copenhaga.

O Financial Times cita documentos judiciais emitidos nos EUA nas últimas semanas que mostram que o governo de Trump está a trabalhar para revogar as licenças de pelo menos dois parques eólicos na costa do estado do Massachusetts: o SouthCoast Wind, desenvolvido pela francesa Engie e pela EDP Renewables, e os projetos New England Wind 1 e 2, desenvolvidos pela Avangrid, subsidiária da espanhola Iberdrola.

Além do Revolution Wind, a Ørsted tem um outro projeto renovável offshore inacabado nos EUA - o Sunrise Wind -, sendo que os investidores temem que também este parque se possa tornar um alvo de Trump. No caso do Revolution Wind, o grupo dinamarquês detém 50% do projeto, com o restante nas mãos de uma subsidiária da BlackRock. No entanto, o Sunrise Wind é 100% da gigante dinamarquesa, o que levou a este aumento de capital (cujo anúncio fez com que as ações afundassem 30% num só dia.) A empresa não está a conseguir encontrar um parceiro para dividir o risco do projeto.

Doug Burgum, secretário do Interior dos EUA, justificou a suspensão das obras do parque Revolution Wind, citando preocupações com a segurança nacional dos EUA, incluindo a possibilidade de serem lançados ataques com drones submarinos a partir das turbinas eólicas.

No início de 2025 a ∅rsted comunicou ao mercado que fechou o ano passado com imparidades totais de 12,1 mil milhões de coroas dinamarquesas (mais de 1,6 mil milhões de euros), fruto do aumento das taxas de juro e de uma subida dos custos de vários projetos offshore no mercado norte-americano. No primeiro semestre do ano, as contas da empresa melhoraram: a receita cresceu 11%, o EBITDA (resultado antes de juros, impostos, depreciações e amortizações) avançou 10% e a empresa reverteu parte das imparidades que tinha constituído no ano passado, levando a que o resultado líquido se traduzisse num lucro de 8,2 mil milhões de coroas dinamarquesas (o equivalente a 1,1 mil milhões de euros).

No entanto, no mesmo dia em que anunciou estes números, a empresa dinamarquesa também decidiu prosseguir com o projeto eólico offshore Sunrise Wind, anunciando que, para financiá-lo, precisará de um aumento de capital equivalente a 8 mil milhões de euros, que vai ser decido. Em papalelo, a empresa está a avançar com uma série de operações de venda de ativos e participações em projetos, com as quais espera obter receitas equivalentes a 4,7 mil milhões de euros entre 2025 e 2026.

Logo no início de 2024, a dinamarquesa foi a primeira empresa a desistir de avançar para o primeiro leilão eólico offshore em Portugal, depois de ter manifestado interesse. Nessa altura retirou-se também de outros projetos em diferentes geografias, para poder poupar quase cinco mil milhões de euros.