"Julian Assange tem motivos para temer a sua extradição para a Suécia, onde corre o risco de ser detido assim que desembarcar e, provavelmente, enviado para os EUA". Com este argumento, dezenas de celebridades norte-americanas conhecidas por serem ativistas em questões políticas e sociais decidiram apoiar o pedido de asilo político feito pelo fundador do WikiLeaks, que está há uma semana refugiado na embaixada do Equador em Londres.
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Entre os signatários estão os escritores Noam Chomsky e Naomi Wolf, os realizadores Oliver Stone e Michael Moore,o ator Danny Glover, o comediante Bill Maher e o ex-analista militar dos EUA que divulgou documentos secretos do Pentágono em 1971.
Na petição entregue ontem na embaixada equatoriana em Londres, dirigida ao Presidente Rafael Correa, os signatários referem o facto de o Governo dos EUA "ter deixado clara a sua hostilidade para com o WikiLeaks", acrescentando que Julian Assange poderá vir a ser condenado à morte pela Justiça norte-americana se for acusado e considerado culpado de espionagem.
"Robin Hood da era digital"
O documento de apelo dirigido ao Presidente equatoriano, para que este de asilo político a Julian Assange, refere que "o crime cometido é o de praticar jornalismo". De acordo com os signatários, "este é um caso claro de ataque à liberdade de imprensa e ao direito do público de saber verdades importantes sobre a política externa dos EUA", acrescentando que há uma séria ameaça à saúde e ao bem-estar do criador do WikiLeaks.
A vida de Julian Assange vai ser o tema do próximo filme do cineasta alemão Cyril Tuschi, realizador do premiado documentário "Khodorkovsky". Em "Leaks -Three Dates With Harry Harrison", longa de ficção, vamos acompanhar uma personagem (Julian Assange) que utilizava a Internet para encontros, usando o nickname Harry Harrison.
"O filme vai mostrar a ascensão e queda de alguém que sempre teve problemas com o autoritarismo, uma espécie de Robin Hood da era digital", afirmou Jan Kruger, produtor da obra.
Em "Leaks - Three Dates With Harry Harrison", o espectador vai acompanhar três encontros que foram fundamentais para a vida de Assange. O primeiro em 2010, na Islândia, a partir do qual o australiano criou uma organização que mudou o jornalismo, a democracia e a própria Internet. O segundo, na Suécia, com uma fã, quando já se via Julian Assange como uma estrela pop. O terceiro encontro, com uma jornalista, decorre em Londres, onde Assange faz um balanço da sua vida.
Presidente equatoriano analisa pedido de Assange
O pedido de asilo político apresentado por Julian Assange está a ser analisado pelo Governo equatoriano, e não há prazos para a resposta.
O Presidente do Equador, Rafael Correa, discutiu o assunto segunda-feira com a sua embaixadora no Reino Unido, Ana Albán, mas não anunciou uma decisão.
De acordo com o ministro equatoriano dos Negócios Estrangeiros, Ricardo Patiño, um grupo de advogados está a analisar as eventuais "implicações políticas e jurídicas para o Equador no caso de aceitar o pedido de asilo", revela uma nota divulgada no jornal oficial "O Cidadão".
O Equador não tem urgência em tomar uma decisão. "Há pessoas que ficaram isoladas em embaixadas por um dia, três semanas ou cinco anos", afirmou Ricardo Patiño, assegurando que será uma "decisão soberana", e que não manteve qualquer contato nem com Julian Assange nem com diplomatas norte-americanos para discutir o assunto.
A análise "pode levar alguns dias, semanas ou até mais", o que não é anormal numa situação destas, uma vez que "já houve casos de pessoas que ficaram meses e até cinco anos a viver numa embaixada".
As autoridades britânicas, por sua vez, afirmaram que Julian Assange vai ser detido assim que puser o pé fora da embaixada equatoriana, mesmo que o Equador lhe dê asilo político. Isto porque o fundador do WikiLeaks violou o acordo de fiança, que o obrigava a permanecer em casa entre as 22h e as 8h. Ora, Julian Assange refugiou-se na embaixada precisamente durante esse período.