A Voz de Trás-os-Montes

Castanha dá milhões de euros à Trás-os-Montes

José Manuel Cardoso

A produção da castanha em Trás-os-Montes é o setor mais sustentável da atividade rural nesta região. Só este ano calcula-se que, na venda direta, mais de 30 milhões de euros sejam atingidos com a sua comercialização. Aqui, a DOP Padrela, com valores a chegar aos 15 milhões de euros, e a castanha da Terra Fria, a rondar os 10 milhões, assumem um domínio de relevo no setor.

Menos produção, mas de melhor qualidade em relação ao ano anterior. Esta é a realidade da safra deste ano na região transmontana. Os valores, junto dos produtores, estão entre os 2 e 2,5 euros/kg.

Vários certames realizados em torno deste fruto evidenciam a sua mais-valia socioeconómica e no horizonte perfilam-se vários investimentos, nomeadamente em Vinhais, onde se vai investir cerca quatro milhões de euros e criar 50 postos de trabalho. Trata-se de uma empresa que terá a capacidade para transformar toda a castanha produzida do país. No entanto, é no concelho de Valpaços que a castanha assume uma importância relevante na sustentabilidade do tecido rural. Em Carrazedo de Montenegro, cerca de 95 por cento dos agricultores apostam na monocultura e dependem deste setor. Neste âmbito, surge assim a XVI Feira da Castanha - CASTMONTE, de Carrazedo de Montenegro, que irá decorrer entre 9 e 11 de novembro. Na apresentação do certame, o presidente da Câmara Municipal de Valpaços, Francisco Tavares, assegurou que este ano a venda direta dos produtores do concelho pode situar-se entre os 15 a 20 milhões de euros. "É uma produção menor, mas o calibre é maior e o preço da Judia (variedade dominante) está muito bom, já que varia entre os 2 e 2,20 euros. É muito dinheiro e é uma riqueza concelhia que os agricultores têm sabido preservar".

O certame, um dos mais tradicionais de Trás-os-Montes, já tem espaço próprio e a organização espera o mesmo número de visitantes e o mesmo volume de negócios. "Não há grandes alterações em relação às edições anteriores, apenas foram feitas algumas melhorias. A animação cultural e recreativa mantém-se, assim como a visita de representantes da comunidade de Beynat, cidade francesa com quem temos uma geminação, que também tem produção de castanha".

A Junta de Freguesia de Carrazedo de Montenegro assume um papel de relevo na dinamização deste certame. O seu presidente, Alípio Barreira, ao abordar o evento não esqueceu a crise que inibe um pouco a organização para fazer uma promoção maior da castanha da Pardela. "Este ano, temos uma feliz coincidência que ocorre em dia de S. Martinho. Ao longo de dezasseis anos do certame é a primeira vez que tal acontece. Vamos ter mais castanha assada e jeropiga para os visitantes para assinalar a data festiva. Gostávamos de fazer um bolo maior, mas o espaço da feira não nos permite".

Quanto à criação de uma unidade de transformação de castanha, o autarca deixou claro que, "dada a qualidade existente, o mercado assume a totalidade do produto em fresco". "Não temos refugo, ou seja castanha de qualidade inferior para a enviar para outros aproveitamentos. A Associação Regional dos Agricultores das Terras de Montenegro, ARATM, é detentora da Denominação de Origem Produzida, DOP, "Castanha da Padrela" e foi ela que esteve, há 16 anos, na génese deste certame.

Filipe Pereira, técnico da ARATM, garantiu que devido às últimas chuvas, a castanha é de maior calibre e as previsões apontam para que a colheita se fixe entre as 6 e as 8 mil toneladas. Sublinhou ainda que a produção deste ano não está a ir para a casa dos agricultores, o que "é um bom sinal".

A DOP Padrela abrange uma freguesia do concelho de Murça, três de Chaves, duas de Vila Pouca de Aguiar e as restantes do concelho de Valpaços. A qualidade também é diferente.

De referir que, no ano passado a castanha foi de má qualidade e os preços rondaram 1,40 a 1,60 euros.

Quanto às doenças do castanheiro, a tinta e o cancro, o recurso aos híbridos franceses é o último recurso. "Nós temos importados castanheiros híbridos franceses como porta-enxertos e aconselho os nossos produtores a utilizar esta prática, mas só nesta forma, até porque a qualidade e a conservação da castanha dos híbridos é muito fraca e de inferior qualidade. A manutenção da identidade da castanha e a nossa variedade é mantida. Ou seja, a única coisa que é importada é o porta-enxertos, depois é colocada a nossa variedade".

Neste certame colaboram a Junta de Freguesia de Carrazedo de Montenegro, Empreendimentos Hidroelétricos do Alto Tâmega e Barroso, e a ARATM.

Mais de meio milhão de euros em Vila Pouca de Aguiar

Em Vila Pouca de Aguiar, a castanha é também uma mais-valia e deverá atingir este ano uma produção de cerca 450 toneladas, contribuindo assim com mais de meio milhão de euros para o aforro de 1500 proprietários de soutos no concelho aguiarense. Montante significativo que leva mesmo o presidente da Câmara Municipal, Domingos Dias, a considerar que a castanha é o ouro da agricultura no concelho, sendo o produto que mais contribui para a sobrevivência dos agricultores que trabalham neste setor.

As maiores manchas de castanheiro no concelho situam-se nas encostas da Padrela e no planalto de Jales, seguidas do vale de Aguiar e do vale de Avelames. Ainda que a campanha seja razoável, sentiu-se um atraso na produção devido às condições meteorológicas, o que atrasou um pouco a chegada do produto ao mercado. As espécies mais representativas são a Longal, a Cota e a Judia.

Com o objetivo de melhorar a produção, o Gabinete de Apoio ao Agricultor auxilia os produtores locais com análises do solo e de folhas para instalação e manutenção de soutos. Fazem ainda aconselhamento técnico em nutrição, pragas e doenças, e nas candidaturas a fundos comunitários, entre outros.

A castanha é tão representativa do setor primário no concelho que existe um castanheiro classificado como Árvore de Interesse Público. O exemplar, denominado pelo seu proprietário como "o último romano vivo", está localizado na aldeia de Vales, freguesia de Tresminas. O Castanheiro dos Vales tem 14,20 metros de diâmetro, sendo necessárias onze pessoas para o abraçarem, e produz cerca de 200 kg de castanha por ano.

O Nordeste Transmontano tem menos castanha, no entanto, é responsável por quase metade da produção nacional de castanha e promete uma boa colheita. A castanha do nordeste dirige-se essencialmente à exportação, nomeadamente para o Brasil, França, Itália e Espanha. O período de comercialização concentra-se sobretudo entre os meses de outubro a janeiro/fevereiro.

De salientar que, Bragança e Vinhais, onde se concentra a principal área de cultivo de castanheiros na Terra Fria Transmontana, a produção de castanha representará um valor global de cerca de 10 milhões de euros, num total de cerca de 11 milhões de euros para toda a zona da Terra Fria.

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