"São reivindicações que nos parecem justas", sublinhou Luís Ramos, um dos deputados na Assembleia da República eleitos pelo círculo de Vila Real que, no dia 29, esteve reunido com o núcleo local do Movimento Empresarial da Restauração e vários empresários para ouvir os problemas do setor no distrito, em especial as repercussões sobre o aumento do IVA para os 23 por cento.
Na reunião participaram, além dos deputados Luís Ramos e Pedro Pimentel, cerca de uma dezena de empresários de todo o distrito, tendo sido focado em especial a questão do aumento do IVA como um problema que vai mudar para sempre, e para pior, o setor da restauração. "A situação é tão dramática que vão fechar muitos restaurantes e o ramo nunca mais vai ser o mesmo, o que traz implicações para outros setores como o turismo, a agricultura, o comércio", explicou Manuel Pinheiro, um dos representantes do movimento.
Contabilizado cerca de 90 mil micro e pequenas empresas na área da restauração, que englobam 900 mil postos de trabalho diretos, Manuel Pinheiro sublinha que o encerramento de restaurantes vai ter um efeito em cadeia em toda a economia regional. "Se os restaurantes não trabalham vai haver uma grande quebra na venda dos vinhos, dos azeites, das hortícolas e de tantos outros produtos", confirmou Paulo Lisboa, proprietário do Restaurante Paulo de Vila Real e um dos empresários que marcou presença na reunião.
O proprietário lamenta que o Governo não tenha essa visão e que esteja mais interessado em "receber os 23 por cento diretos" provenientes do IVA do que dinamizar as economias locais para que o país seja capaz de fazer frente à crise económica.
Paulo Lisboa lembrou que o aumento do imposto veio tornar insustentável uma situação que já era muito complicada, a "grande quebra" de clientes devido aos efeitos da crise económica. "As pessoas que recebem o salário mínimo não comem no restaurante e aquelas que tinham um rendimento superior estão a ver os seus salários e subsídios cortados, o que os leva também a conter-se nas despesas", referiu.
Também a concorrência de hipermercados, cafés e bares, que servem refeições a preços muitos reduzidos, e dos restaurantes que fogem ao IVA foram sublinhados pelo empresário.
Joaquim Costa, do Restaurante Grill O Costa, anfitrião do encontro, também testemunhou as dificuldades pelas quais passa o setor, referindo que, no seu estabelecimento está a suportar o aumento do IVA, em vigor desde o início do ano, sem aumentar os preços aos clientes, que são cada vez menos. "Houve uma quebra muito grande de clientes, as pessoas pedem menos doses para mais pessoas, houve uma redução de cerca de 90 por cento no serviço à lista (pratos mais caros) e de 80 por cento nas entradas e sobremesas", explicou o empresário como alguns dos efeitos da crise, agora muito mais agravados com o aumento do IVA, os quais consegue combater com a oferta de pratos mais económicos e com fortes incentivos para grupos.
Tantos os responsáveis pelo Movimento como os próprios empresários mostraram-se "muito satisfeitos" com a recetividade dos deputados à intenção demonstrada de levar as preocupações do setor ao Governo.
O deputado Luís Ramos adiantou ao Nosso Jornal que levará as questões levantadas ao Grupo Parlamentar do PSD responsável pela análise da questão que, por sua vez, abordará os problemas nas Comissões de Economia e Agricultura no âmbito da discussão do Orçamento de Estado para 2013.
Além do aumento do IVA, o deputado sublinhou que vai defender outras medidas, nomeadamente o pagamento do imposto não em duas vezes por ano mas em outras modalidades, de forma mais faseada ao longo do ano.
Outra medida referida por Luís Ramos prende-se com a necessidade de criar um sistema de controlo mais eficaz que seja capaz de travar a fuga aos impostos no setor. "Se todos pagassem seria mais fácil reduzir o IVA", explicou.
Mais, o deputado sublinhou ainda a redução das taxas cobradas ao pagamento com cartões de débito e crédito, bem como rever a situação da diferenciação entre a restauração e a hotelaria no que diz respeito ao IVA.
"As reivindicações parecem justas", defendeu Luís Ramos, lembrando que "o aumento do número de falências na restauração e no número de desempregados no setor vai ser muito mau para o país".