A Voz de Trás-os-Montes

Cantinas sociais com mais procura

José Manuel Cardoso

A Santa Casa de Misericórdia de Vila Real é uma das quatro instituições que fornecem refeições às pessoas mais carenciadas e protocoladas com o Ministério da Solidariedade Social. Após alguns meses da entrada em vigor destes apoios, o Nosso Jornal abordou este assunto junto de entidades responsáveis, como a Misericórdia de Vila Real.

António Vale, colaborador desta instituição, lembrou que as cantinas sociais foram criadas através de um programa do Governo. "Nós já tínhamos aberto o refeitório social há 4 anos. A cantina social foi criada pela Santa Casa da Misericórdia e nasceu da necessidade de se apoiar um crescente número de pessoas que nos últimos tempos começaram a deambular pela cidade de Vila Real, com evidentes sinais de desleixo e má nutrição, como pessoas vindas de outros países, com uma média de idade a rondar os 40 anos". "Temos um protocolo com a Segurança Social para 100 refeições diárias, ainda não as atingimos, estamos com cerca de 80, embora nestas refeições muitas são na totalidade suportadas por nós.

A procura tem vindo a aumentar ligeiramente. "Realço que, às terças e sextas-feiras, os nossos quatro técnicos, onde se incluiu uma nutricionista, fazem uma consulta individual para triagem de pessoal. Neste momento, temos uma cantina social na Marechal Teixeira Rebelo, e uma outra de entrega num estabelecimento. O protocolo com a Segurança Social dá-nos apenas uma pequena ajuda. Assim, continuamos a atender pessoas que vêm da Segurança Social, assim como outras que nos apareçam de repente. No entanto, ao fim de 4 dias, são reencaminhadas novamente para a Segurança Social".

A Santa Casa de Misericórdia de Vila Real tem outro serviço de refeições dirigido a famílias com filhos. "Os familiares com crianças não são atendidos na cantina, são encaminhados para uma outra unidade de acolhimento na cidade, onde à noite lhes é entregue, num recipiente próprio, as refeições para levar para casa, evitando assim expor as crianças. Não se trata de qualquer descrédito para as pessoas que recorrem ao refeitório social, mas sim uma questão de preservar a privacidade das crianças".

O programa contempla apenas uma refeição por dia, "mas nós complementamos com jantar". "Temos 56 refeições (almoço e jantar) na rua Marechal Teixeira Rebelo, e na outra unidade 18. Quase todos os utentes vêm do Rendimento Social Inserção".

"Sublinho que grande parte dos utentes são toxicodependentes e ex-reclusos, mas agora já temos de acudir também a outras pessoas, fruto da crise que atravessamos. Ainda não sentimos que venham muitas pessoas que estejam desempregadas, contudo notamos que há gente a passar muito mal", realçou o provedor da Misericórdia, padre José Gomes.

A ementa diária é igual para todos. "Todos comem o mesmo. Diariamente, temos um prato de carne e de peixe, com boa qualidade, a sopa, o pão, a sobremesa e água", concluiu.

Constantim e Campeã com cantinas sociais

No concelho de Vila Real, há quatro centros de distribuição de refeições. Além da Santa Casa de Misericórdia de Vila Real, o Centro Social e Paroquial de Campeã, S. Tomé de Castelo e Constantim estão imbuídos nas mesmas funções sociais.

Fernando Cordeiro, diretor do Centro Paroquial de Constantim, referiu, ao Nosso Jornal, que, ultimamente, são os casais jovens desempregados que está a procurar a cantina social. "Temos famílias na casa dos 20/30 anos, ambos desempregados, que recorrem às refeições. Neste momento, protocolamos 65 refeições com o Ministério da Solidariedade, mas não pedimos reforço para 2013. Julgo que estamos a desempenhar bem o nosso papel que vai ao encontro as necessidades das pessoas".

Além da freguesia de Constantim, este centro tem como área de influência as congéneres de Andrães, Nogueira, Abaças e Vale de Nogueiras. Em muitas destas localidades foram realizados pequenos acordos com algumas instituições particulares de solidariedade social. No terreno, o Centro de Constantim abrange diretamente Arroios, Sabroso e Vila Nova.

O Centro Social e Paroquial de Campeã também tem vindo a prestar este tipo de apoio, mas assente numa distribuição de refeições noutros Centros com mais proximidade junto das populações, conforme nos contou o diretor padre Queirós. "Na zona da Campeã, este programa não tem muitos utentes, são apenas 6 as pessoas a quem prestamos assistência. No entanto, sob a nossa abrangência, existe o Centro Social e Paroquial de Torgueda e a Cáritas".

"Das 65 refeições, 50 já são servidas, sendo que os agregados familiares são aqueles os que mais nos procuram. Recorde-se que, os distritos de Porto e Vila Real reforçaram em cerca de 20 por cento o número de refeições que podem ser servidas nas cantinas sociais".

Por várias vezes, tentamos obter informação do Centro Social e Paroquial de S. Tomé de Castelo, mas não foi possível em tempo útil um esclarecimento sobre os dados deste Centro.

Segundo dados dos Centros Distritais da Segurança Social, o distrito de Vila Real passou de 1280 refeições por dia para 1600.

Recorde-se que, durante o mês de janeiro foram assinados novos protocolos, alargado o número de refeições por cantina e permitido que IPSS com vários polos possam ter mais do que uma cantina social. Em Vila Real, algumas IPSS, no início do processo, denunciaram os protocolos por falta de utentes, mas foram muitos mais os casos de reforço por existência de listas de espera.

As cantinas sociais são uma medida incluída no Programa de Emergência Alimentar (PEA). Por cada refeição servida o Estado paga 2,5 euros.