A política também é a arte da gestão de expectativas e nesse campeonato António Costa é o melhor e mais competente. Fosse assim igualmente dotado na área da Governação e o país estaria bem melhor, sem os problemas actuais na saúde, na educação e na degradação dos diferentes serviços públicos e numa situação cada vez mais “apertada” do rendimento das famílias.
Quem por estes dias tem ouvido o primeiro-ministro demitido fica convencido que este aterrou agora no país e, qual Alice no País das Maravilhas, só tem responsabilidades nas coisas boas e é uma vítima da especulação do Ministério Público. Quanto aos problemas no SNS isso são problemas de Marta Temido, Manuel Pizarro ou ainda da troika, o caos na educação é uma herança de Passos Coelho, a falta de habitação é um problema da direita quando António Costa foi 8 anos Primeiro Ministro e 10 Presidente da Câmara de Lisboa. Se há um problema de habitação em Lisboa António Costa alguma responsabilidade terá, mas os socialistas acham que não.
Mas a narrativa oficial determina que António Costa é uma espécie de menino de oiro e vítima de mais uma cabala. Sócrates não diria pior. António Costa não se demitiu por causa de um parágrafo num comunicado. António Costa demitiu-se porque foi envolvido num pantano que ele próprio criou ou proporcionou. Foram “apanhados” cerca de 80 mil euros escondidos no seu palácio de São Bento, no gabinete de Vítor Escária, o “artista” de Sócrates que António Costa fez questão de trazer de volta à política apesar de todas as suspeitas que existiam. Imaginem que o caso Escária se tinha passado com o chefe de Gabinete de Passos Coelho? Seria sempre o caso Passos Coelho e não “um problema de Escária”. É neste tipo de manipulação de expectativas que António Costa e o PS são mestres.
Foi o Primeiro-Ministro demissionário que envolveu na cena pública e política Lacerda Machado a quem mandatou para tratar de assuntos de interesse público sem qualquer vínculo laboral ou escrutínio político. Ora, fosse por voluntarismo ou interesse o “melhor amigo” ajudava mas obviamente que ficaria sujeito às críticas ou suspeitas que viessem a acontecer. Pôs-se a jeito.
Após dezenas de demissões no Governo de maioria absoluta e de vários escândalos ocorridos que indignaram os portugueses, as instituições foram ficando cada vez mais frágeis e descredibilizadas. O único beneficiário disto foram os partidos populistas. Com este cenário e o caos nos diferentes serviços públicos, António Costa atirou-se para o chão assim que sentiu um sopro nas costas.
Todos reconhecem, do Banco de Portugal ao Ministério das Finanças, que as previsões económicas para 2024 são terríveis e as economias europeias vão sofrer bastante. Nesse momento já não será possível agravar ainda mais a carga fiscal para “disfarçar” o milagre das contas públicas. As famílias e as empresas reclamam cada vez mais o alívio fiscal.
Portugal é hoje um dos países mais pobres da UE27 sendo brevemente ultrapassado pela Roménia.
As instituições públicas estão descredibilizadas e os seus serviços altamente degradados. Os portugueses vivem hoje pior e a classe média está em franco desaparecimento.
Este é o legado de António Costa, que é culpado e não vítima.