O novo despacho do Ministério da Educação vai impor às escolas um cardápio de comida autorizada que chocou muitos de nós, não pelo princípio, o de dar o exemplo, mas pelo exagero das restrições pela falta de medidas paralelas ao nível da educação para uma alimentação saudável. Em primeiro lugar, importa reconhecer que uma das principais causas de morte precoce, logo a seguir ao trauma, são as doenças cardiovasculares. Recordo-me que já há cerca de 10 anos, quando concorri a líder da JSD, assim era e de imediato propusemos algumas medidas relacionadas com a vida saudável - uma delas sobre os “semáforos” nos alimentos foi mesmo aprovada pelo Parlamento, mas até agora nunca concretizada.
Não só os mais jovens, mas os portugueses em geral têm um problema com as doenças cardiovasculares e isso deriva muito da nossa alimentação e da falta de exercício físico. Muitos de nós deixam de fazer qualquer desporto quando termina o ensino secundário.
Mas se ao Estado compete dar sinais de comportamentos recomendáveis, por outro lado importa ter medidas que por um lado ensinem às pessoas o que é uma alimentação saudável e por outro que sejam equilibradas, de bom senso, eficazes e que respeitem as liberdades individuais. Ora, este despacho não prevê nada disso porque por um lado não evita que os estudantes corram para os cafés e pastelarias da vizinhança a consumir o que lhes é vedado na sua escola como também não acrescenta qualquer conteúdo relacionado com a matéria nas aulas lecionadas. Cá está, para o Governo de António Costa é mais fácil proibir do que ensinar.
Este despacho faz-me lembrar um episódio caricato com o ex-ministro da Saúde Adalberto Campos Fernandes que no mesmo dia em que se anunciava a proibição de venda de doces e chocolates nas máquinas de vending dos hospitais, o responsável do Governo pela Saúde estava em plena audição da Comissão de Saúde do Parlamento com um prato de chocolates à frente para ir “debicando” (confesso que já não me recordo se eram Maltesers ou KitKat). Depois de um tweet que fiz em plena Comissão o Ministro, que ao contrário de outros sempre reagiu com “desportivismo” às críticas, regressou para a segunda parte da audição com um prato de fruta descascada. O comportamento de políticos e decisores públicos tem de ser coincidente com as medidas e obrigações que estes mesmos impõem aos cidadãos.
Se proibir a venda de croissants, pizzas, coca-cola ou chocolates é discutível ou até compreensível, já me parece um verdadeiro abuso proibir alimentos tradicionais da gastronomia portuguesa como pão com chouriço, uma simples empada de frango (as melhores empadas que comi na vida foi no Liceu Nuno Álvares em Castelo Branco) ou um pastel de bacalhau. É uma intromissão absurda e ineficaz na vida das pessoas e o renegar de uma parte importante da nossa cultura que nos distingue. Gostava de saber quem foi a inteligência que se lembrou de incluir na lista a proibição de “barritas de cereais e monodoses de cereais de pequeno-almoço”. E já agora também gostava de saber quais serão as escolas que terão “requeijão” de qualidade e a preços acessíveis para os alunos.
Hoje muitas das escolas têm já uma “dieta” pensada e calculada por nutricionistas que procuram garantir refeições exemplares e responsáveis. Mas talvez fosse mais útil que o Governo de António Costa colocasse à disposição dos refeitórios das escolas públicas meios suficientes para que estes tenham maior qualidade, mais alimentação saudável, mais legumes frescos em vez de obrigar à austeridade alimentar que significam as refeições proporcionadas pelas cadeias de fornecimento de refeições escolares. O primeiro exemplo seria voltar a contratar recursos humanos suficientes para confecionar a comida nas escolas e voltar a abrir as cozinhas. Fica a sugestão.