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O grande momentum

Bolsas. Os investidores adoram andar atrás de ações bem cotadas. Os decisores políticos deveriam estar em guarda contra a dinâmica que isso gera.

Exclusivo Expresso / The Economist

Há pessoas que fazem fila durante toda a noite para fazerem compras durante os saldos de janeiro. Contudo, nos mercados de ações, a atitude dos investidores é a oposta: afluem para comprar ações que subiram de preço.

Este efeito de momentum existe há mais de um século e tem sido observado em muitos países. Os investidores que compram as ações que tiveram melhor desempenho no ano anterior obtêm rendimentos mais elevados (dez pontos percentuais por ano) do que aqueles que compram as perdedoras dos doze meses anteriores. Esta anomalia desafia a teoria académica, formulada na hipótese da eficiência dos mercados, segundo a qual os anteriores movimentos de preços não constituem indicadores quanto a futuras alterações. E não pode ser explicada pela afirmação de que as ações com melhor desempenho apresentam mais riscos ou argumentando que os custos das operações envolvidos nesta estratégia absorveriam todos os lucros.

Embora tenha sido largamente documentado, o efeito de momentum nunca foi adequadamente explicado. Talvez a reação dos investidores seja lenta, quando a sorte das empresas muda; um bom conjunto de resultados pode ser considerado apenas como fruto do acaso mas, depois de dois ou três períodos excecionais, as ações passam a ser títulos-prodígio. Outra possibilidade é serem os gestores de fundos a criar o efeito de momentum, quando procedem a operações 'de cosmética' nas suas carteiras, incluindo nestas as ações que se destacaram mais recentemente (dá muito melhor aspeto fechar um trimestre com títulos das líderes de mercado).

O segundo mistério é o motivo por que nunca se chegou a acordo para eliminar esse efeito. É óbvio que o efeito de momentum não pode durar para sempre, ou os preços das ações tenderiam para o infinito. Ao longo de períodos dilatados (mais de três anos, aproximadamente), verifica-se uma anomalia oposta chamada efeito de valor: as ações cujo preço está depreciado tendem a recuperar. Os investidores que andam atrás do momentum podem ser apanhados pela transição de um efeito para outro, em especial se recorreram ao crédito para aumentar os seus rendimentos.

Bolhas em explosão infinita

Seja qual for o raciocínio, o efeito de momentum revela uma coisa importante sobre os mercados. A hipótese da eficiência dos mercados é um lembrete útil de que o investidor médio não pode esperar levar a melhor sobre os mercados, depois de deduzidas as despesas. Por isso, os veículos de baixo custo como os fundos de investimento indexados e os fundos de investimento transacionados em bolsa (ETF) tornaram-se populares. Analisar um mercado irracional é extremamente difícil, conforme descobriram aqueles que tentaram aproveitar-se do boom pontocom, em finais dos anos 1990. Um mercado irracional emite sinais enganadores, que induzem a que o capital seja colocado nos sítios errados - por exemplo, incentivando a construção de habitações nos Estados Unidos, em Espanha e na Irlanda, para as quais havia uma reduzida procura subjacente (por oposição a especulativa). As empresas que consideram mais fácil ganhar dinheiro com base nestes sinais do mercado podem não ser as que têm melhor potencial de negócio.

Para os investidores, estas especulações são bastante complicadas. E para as entidades reguladoras? Os efeitos de momentum são mais uma razão para se evitar impor restrições aos vendedores a descoberto. Impô-las apenas impede que (ou, com maior frequência, atrasa) os preços atinjam o nível correto. Em demasiados casos, como aconteceu com a Enron, o gigante da energia que faliu, os vendedores a descoberto foram os únicos que tiveram a coragem de desconfiar dos favoritos do mercado.

Ao nível global do mercado, os efeitos de momentum ajudam a explicar como se desenvolvem as bolhas. Junte-se a isso dinheiro obtido a crédito e temos a receita para um desastre como o da crise do crédito. Com demasiada frequência, os bancos centrais têm tido tendência a dar uma opção unidirecional aos compradores especulativos - reduzindo as taxas de juro quando os mercados hesitam mas mantendo-as inalteradas quando os preços dos ativos sobem. Mesmo agora, muitos apegam-se ainda ao credo do antigo presidente da Reserva Federal, Alan Greenspan, que considerava que os bancos centrais não deviam tentar rebentar as bolhas mas proteger a economia, quando estas explodissem. É indiscutivelmente difícil detetar bolhas. Mas os bancos centrais já lutam com outros imponderáveis, como a dimensão do output gap (desvio do produto real face à sua tendência de longo prazo) e o nível do desemprego estrutural. E as bolhas de ativos podem ser esvaziadas através do estabelecimento de limites para alguns tipos de crédito, em vez do aumento das taxas de juro. As economias podem deixar-se levar pelo momentum.

(c)2010 The Economist Newspaper Limited. Todos os direitos reservados. Em The Economist, traduzido por Fábrica do Texto para Impresa Publishing, publicado sob licença. O artigo original, em inglês, pode ser encontrado em www.economist.com

Texto publicado no caderno de economia do Expresso de 15 de janeiro de 2011