Sociedade

Sustentabilidade não é moda. É garantia de futuro

Projetos Expresso. Portugal ambiciona ter 97% das empresas comprometidas com as metas definidas para a gestão da água, energia e resíduos até 2027. Contudo, ainda há muito por fazer no caminho da sustentabilidade, essa questão de sobrevivência

Xander Bueno de Mesquita foi o grande orador da manhã na conferência Towards a Sustainable Tourism Industry, que está a decorrer hoje na Estufa Fria, em Lisboa. O Hotel Q|O Amsterdam é um projeto 100% sustentável que nasceu da visão do empreendedor
NUNO FOX

Fátima Ferrão

A sustentabilidade ambiental é um desafio essencial na Estratégia 2027, definida pelo Governo, e o sector do Turismo é um dos que terá um papel mais importante para a concretização das metas definidas que, apesar de ambiciosas, “estão ao alcance dos nossos empresários”. A afirmação é de Ana Mendes Godinho, Secretária de Estado do Turismo, convidada da conferência Towards a Sustainable Tourism Industry, organizada pelo ISQ e apoiada pelo Expresso, que está a decorrer na Estufa Fria, em Lisboa. Presentes, durante a manhã, estiveram ainda Xander Bueno de Mesquita, empreendedor e responsável pelo projeto Q|O Amsterdam, e Luís Araújo, Presidente do Turismo de Portugal.

Posicionar Portugal como um dos destinos turísticos mais competitivos e sustentáveis do mundo – o país venceu este ano o prémio de 'destino mais sustentável' – é, não só a grande meta da Estratégia 2027, mas também a ideia que serviu de mote a esta conferência, que visa a partilha de experiências, soluções e casos de sucesso na área da sustentabilidade. “Há muitos, e bons, exemplos, mas há também ainda muito para fazer neste sentido”, revela Ana Mendes Godinho. A governante destaca o caminho positivo que o país tem trilhado durante os últimos anos, com cerca de dois terços das empresas do sector do Turismo a demonstrar preocupações ambientais, e com projetos bem definidos que traçam a evolução dos próximos anos. “Os dados de 2018 revelam alguma evolução, mas ainda estamos longe dos 97% a que nos propusemos até 2027”, acrescenta.

Para apoiar as iniciativas relacionadas com a temática da sustentabilidade, a Secretária de Estado recorda que o Governo disponibiliza alguns instrumentos financeiros que as empresas podem utilizar para adaptar-se à nova realidade. No entanto, destaca também a pouca procura pois, admite, “por vezes as empresas não sabem que existem”. Feito o investimento será necessário monitorizar o impacto, o que, diz, já está a ser feito através dos observatórios regionais que serão criados para o efeito. Para já está a funcionar no Alentejo e previsto, em breve, para as regiões de Porto e Norte e para o Algarve.

Na mesma linha, Luís Araújo, relembra que sustentabilidade não é só competitividade, mas sim uma questão de sobrevivência. “Se não fizermos nada dificilmente teremos algum futuro”, diz. Para o responsável do Turismo de Portugal “temos todos que ser mais exigentes, todos os dias” para que haja um envolvimento da sociedade nestas questões.

Luís Araújo destaca ainda a importância da conjugação entre fatores como o conhecimento - “é fundamental saber em que ponto estamos, mas também conhecer a realidade dos outros” -, o digital (aproveitar a inovação e a tecnologia para melhorar as nossas vidas), e as pessoas para que a sustentabilidade seja uma realidade e não apenas o chavão que sustenta a ideia de que 'não há um planeta B'.

“Quero construir o hotel mais inovador e sustentável do mundo”

Xander Bueno de Mesquita é um eco-empresário holandês. Após uma licença sabática que seria de quatro meses, mas que acabou por transformar-se numa aventura de quatro anos, regressou ao país natal, depois de ter viajado por diversas partes do mundo. Na bagagem trazia uma ideia que classifica entre a ambição e a loucura: construir o hotel mais inovador e sustentável do mundo. Loucura ou não, certo é que o projeto é hoje uma realidade.

Nas margens do rio Amstel, em Amesterdão, nasceu o Q|O Hotel, “um edifício vivo, alimentado por uma economia circular”, como refere o seu criador. Assume que não tinha experiência de hotelaria, de finanças, de construção ou de arquitetura, mas tinha esta visão de sustentabilidade num alojamento que, mais do que apenas receber os visitantes, seria também uma porta aberta à comunidade.

O Q|O Hotel foi erguido sem recorrer a materiais de construção tóxicos e com 50% de materiais reciclados, “muitos provenientes de outras obras perto do local”, diz Xander. Quanto à eficiência energética, o edifício consome menos 65% do que uma construção semelhante em dimensão graças ao 'sistema camaleão' – uma espécie de pela que reveste a estrutura exterior e que se adapta à intensidade da luz solar. Existe ainda uma estufa interior que produz vegetais e frutos de forma orgânica, com vista aos pequenos-almoços e as refeições servidas no restaurante do hotel. A mensagem que deixa aos empresários do sector passa pela emergência de refletir sobre as melhores soluções para o planeta e para as comunidades, para um trabalho conjunto porque a sustentabilidade é mesmo uma questão de sobrevivência da espécie.