A mobilidade em Portugal é um paradoxo: sabemos há décadas o que precisa de ser feito, mas continuamos reféns de anúncios (e promessas) que nunca se concretizam. O setor representa cerca de um quarto das emissões nacionais de gases com efeito de estufa, com impacto direto na qualidade do ar, no ruído (poluição sonora), na saúde pública e na produtividade.
Não é apenas uma questão ambiental: é social, porque afeta o bem-estar das pessoas e pode ajudar na descentralização. E económico, porque condiciona custos, eficiência e competitividade das empresas.
A verdade é que ficámos demasiado tempo na paragem errada. O resultado? Um desinvestimento mascarado de intenções, em que medidas positivas, mas limitadas - como o passe único, o passe verde - funcionam como bálsamo e não como solução estrutural. Enquanto isso, cidades e cidadãos continuam dependentes do automóvel, com todos os custos sociais e ambientais associados.
O problema não é falta de ideias (propostas), é (a) falta de compromisso político para uma visão de longo prazo. Projetos de mobilidade levam anos a gerar impacto e não podem ser travados porque mudou o presidente da câmara ou a cor partidária. Precisamos de políticas que sobrevivam a ciclos eleitorais. Até lá, estamos condenados a reinventar a roda a cada quatro anos, desperdiçando recursos e tempo que já não temos.
Para as empresas, esta estagnação tem custos reais. A mobilidade é crítica para a logística, para a competitividade, para os trabalhadores e para a redução de emissões. O setor privado está pronto para colaborar e já o demonstrou.
No Pacto de Mobilidade Empresarial de Lisboa (2019-2021), juntámos o Município e empresas - 119 entidades assumiram 348 ações concretas, da promoção da mobilidade elétrica ao teletrabalho. Mais uma vez, em Braga (2022-2025), onde a mobilidade representa 65% das emissões do concelho, já foram implementadas mais de 250 ações promovidas entre o Município e 47 empresas. O projeto foi, inclusive, premiado e demonstra que sustentabilidade pode e deve ser implementada conjuntamente entre empresas, Estado, Municípios e outros intervenientes.
Se estes pactos conseguem inovar e cooperar, porque é que o país continua preso a bloqueios estruturais?
A Semana Europeia da Mobilidade é uma oportunidade para celebrar boas práticas, sim, mas sobretudo para exigir respostas.
Portugal precisa de deixar de tratar a mobilidade como um tema acessório e assumir que está no centro da transição sustentável do (p)País, descentralizado e com cidades limpas. O futuro não se constrói com promessas: constrói-se com redes interligadas, com investimentos, com compromisso. E com a noção clara de que cada ano perdido custa em competitividade, em saúde e, especialmente, em qualidade de vida.
Mobilidade sustentável como ferramenta de colaboração empresarial
Uma análise e um retrato do país e das metas que continuam por alcançar na Semana Europeia da Mobilidade