Exclusivo

+E

Quantas Áfricas existem? Viagem ao continente sem fim

Como é possível chamarem “negro” a um continente tão cromático? Como resumir este universo camaleónico? Este é o ensaio possível sobre uma ideia de África
e dos africanos, a pretexto de uma viagem de trabalho ao Níger

O sol está a pôr-se, o calor alivia. O nosso guia sai do carro e, com a agilidade de uma gazela, sobe até ao ponto mais alto de uma velha acácia seca. Como se fosse a gávea de um navio

Todos os dias, o Grand Hotel du Niger abre vistas ao eterno espetáculo das vésperas: o pôr do sol no Sahel, e o crepúsculo que se lhe segue, iluminam o céu e o leito do rio com a mesma serenidade impoluta com que o vento esculpiu as dunas do deserto. Metodicamente, a comunidade de expatriados mistura-se com a elite local, e todos assumem religiosamente o seu lugar na esplanada, como um grupo de cinéfilos que assiste repetidamente à mesma película, saboreando a cada vez uma nova descoberta no mesmo plano da imagem. Eu marco o meu lugar antecipadamente, numa mesa com vista privilegiada, 200 metros acima da cota do rio, apreciando o filme pela primeira vez. Vai começar a sessão da tarde.