No interior, resguardado por uma campânula de vidro, um relógio. Em redor do relógio, alguns curiosos observam a roda dos movimentos no minúsculo coração da máquina, fazendo-a vibrar sem parar. O tempo move-se. Se o tempo pudesse recuar como só acontece no cinema ou na nossa imaginação, subitamente estaríamos em Genebra, num dia frio do início desta primavera, durante o momento em que decorre a Watches and Wonders, o maior acontecimento do mundo dedicado à relojoaria internacional. Mas longe do recinto da feira e da ofuscação dos stands das grandes marcas de luxo, na discreta exposição Master of Horology, um pequeno grupo de relojoeiros independentes apresenta os seus relógios artesanais. Entre eles está Dann Phimphrachanh, que apesar deste nome herdado de um avô de origem laosiana, dificílimo de pronunciar, é português. A ocasião é especial. Acaba de lançar o seu primeiro relógio, um pedaço de aço e latão transformado pelas suas mãos num aparelho de precisão milimétrica de medir o tempo, ao qual chamou “Second Vive”. É para ele que estamos a olhar através da transparência do vidro, enquanto tentamos falar com o seu criador. Mas Dann está demasiado atarefado a conversar e a mostrar detalhes técnicos da prodigiosa máquina a alguns experts e só conseguiremos falar uns meses mais tarde, num telefonema entre Lisboa e Yverdon-les-Bains, uma cidade no Cantão de Vaud nas margens do lago de Neuchâtel, a poucos quilómetros de Berna, onde vive e trabalha desde 2011. Combináramos conversar numa sexta-feira deste verão, marcavam os ponteiros pontualmente meio-dia em Portugal, era já uma da tarde na Suíça, o que fazia com que o relojoeiro estivesse três mil e 600 segundos à frente no tempo. Assim o é desde 1884, quando se convencionou a existência de uma hora exata e de um sistema global de 24 fusos horários, estabelecendo-se a latitude zero a partir do Meridiano de Greenwich, pondo termo à confusão de horários que até então dominava o globo terrestre e padronizando por fim o tempo.
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A história do tempo, essa espantosa criação humana: das clepsidras ao relógio atómico
“Quanto tempo é para sempre?”, perguntava Alice ao Coelho Branco, no País das Maravilhas. “Às vezes, apenas um segundo”, responde-lhe o animal. Há muitos séculos que dividimos o tempo em dias, mas as unidades de medida têm mudado com a tecnologia e outras invenções humanas