Raul Brandão publicou, vai para 100 anos, um livro intitulado “As Ilhas Desconhecidas” (1927). A esta narrativa de uma viagem aos Açores, que levou três anos a preparar, chamou Pedro da Silveira, açoriano de gema, “um dos melhores livros de viagens de todos os tempos”. A grandeza da obra — com as suas páginas sobre o Corvo que, ainda hoje, nos fazem tremer de emoção perante a dignidade assumida por uma população de pé descalço — não se explica, apenas, por aproximação à literatura regional nem tão-pouco ao projeto inacabado do autor de escrever uma história portuguesa das classes baixas e humildes. O que há de mais perturbante nesse livro de viagens pelas Ilhas é o modo como o autor se confronta com as paisagens e as gentes, enquanto procede a vários exercícios de introspeção reveladores da sua angústia existencial. É que o fragmentarismo de Brandão, não só neste livro como em outros, aproxima-se, segundo Vasco Rosa, do carácter subjetivo de “O Livro do Desassossego”, de Fernando Pessoa.
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Do reformismo de Raul Brandão ao alinhamento fascizante da Missão Intelectual Portuguesa: 100 anos de um encanto chamado Açores
Em 1927, Raul Brandão publicou “As Ilhas Desconhecidas”, relato da sua viagem aos Açores. Poucos dias antes dessa jornada, a Missão Intelectual Portuguesa partia para o arquipélago, para o dar a conhecer aos continentais. As motivações de uns e outros, porém, eram bem distintas